Meticuloso, perfeccionista, detalhista. Dedicado a saber da qualidade do gramado à qualidade de vida dos atletas extracampo. Tático e motivador. Vencedor. Telê Santana não ergueu a Copa do Mundo, mas colecionou troféus por onde passou: brasileiro pelo Atlético-MG, estadual por Fluminense, Flamengo e Grêmio, Libertadores e Mundial pelo São Paulo, entre outros. As conquistas pelo tricolor paulista, aliás, estão completando maioridade. Nesse 2014, serão 21 anos do título que recuperou a imagem de Telê – até então questionado como “pé-frio” – e o colocou no patamar dos maiores treinadores do Brasil.
Mas as taças conquistadas nos clubes que dirigiu não são a única herança de Telê, falecido há 8 anos. Daquela geração do São Paulo bicampeão da América e do Mundo saíram nada menos que 12 treinadores ou managers para o futebol atual. Nunca uma mesma equipe rendeu tantos treinadores. Todos certamente influenciados pelos métodos de Telê.
O levantamento inclui os nomes dos 23 jogadores que estiveram nas decisões da Libertadores e do Mundial em 1992 e 1993. Todos no trabalho de maior projeção de Telê, que reconhecidamente é influência também ao atual técnico são-paulino, Muricy Ramalho, entre outros.
Dois ex-jogadores daquela estão mais em evidência nos tempos recentes: Doriva e Juninho Paulista, ambos do Ituano, campeão estadual em São Paulo. O primeiro é o técnico, o segundo o gerente. O discípulo de Telê com maior projeção no futebol atual é Leonardo. Ex-técnico dos italianos Milan e Inter, ocupa o cargo de manager no PSG, da França. No exterior também estãoToninho Cerezo, atual técnico do Kashima Anthlers do Japão, Antônio Carlos, auxiliar-técnico na Roma e Pintado, auxiliar no Cruz Azul do México.
Zetti seria outro discípulo, mas já se diz aposentado do cargo de treinador, depois de dirigir, entre outros, Atlético-MG e Paraná. Não deixou, porém, de treinar: tem uma academia de goleiros. Os ex-volantes Adilson e Dinho também militam na área, mas não ocupam nenhum banco de reservas atualmente, a espera de alguma chance – o último é vereador em Porto Alegre.
Há os que ainda dão seus primeiros passos na carreira. Válber, que era tido por Telê como indisciplinado, hoje tenta por os jogadores na linha. Seu primeiro trabalho foi no Audax Rio, de onde já saiu. Muller, que trabalhou na imprensa por um tempo, passou a ser gerente no Grêmio Maringá (não o mesmo time atual vice-campeão paranaense), enquanto que Palhinha tem uma escolinha de futebol nos EUA.
Talvez nenhum chegue ao patamar de Telê, o que é difícil para qualquer treinador. No entanto é inegável a influência do ex-técnico daquele São Paulo do início dos anos 90 na escolha de mais da metade da equipe.
O Brasileirão 2014 vai (?) começar! Depois das guerras das liminares e dos longos Estaduais (alguns ainda em andamento…), finalmente os grandes clubes vão por seus times em confronto, em busca da maior glória nacional. O bicho vai pegar também nas Séries B, C e D, mas o papo aqui é Série A. E como as previsões de todos já estão por aí, o blog se propõe a revelar um método infalível de prever como irá seu time conforme andar a competição.
A primeira coisa que você deve ter em mente: o campeonato é um, mas dividido em pelo menos 8 grandes etapas. Algumas se confundem, outras confundem a gente. As mais óbvias são o primeiro turno e o segundo; em 2014, teremos a pausa pra Copa e então a retomada. E, finalmente, teremos que ver as pontuações com o andamento do campeonato, dividindo-o em começo, recomeço, meio e fim.
O começo compreende a etapa até a pausa para a Copa. Serão 9 rodadas que deixarão algumas impressões, a maioria delas totalmente erradas. Arrancadas fulminantes, começos desastrosos, times divididos entre Libertadores, Copa do Brasil e até mesmo o Estadual. Em tese, Inter, Figueirense, Cruzeiro, Flamengo e Bahia largarão com a moral de serem os campeões estaduais. Isso já não tem tanta relevância. O Ituano é campeão paulista, com muitos méritos, mas seria candidato à queda no Brasileirão. Inter, Cruzeiro e Bahia ganharam campeonatos que mais parecem par-ou-ímpar – coisa que Atléticos, Coritiba, Grêmio e Vitória não fizeram.
Há os que estão na Libertadores e devem dar prioridade máxima a essa competição. Historicamente, torcedores de Cruzeiro, Atlético-MG e Grêmio não devem se preocupar muito caso seus times ocupem a Zona de Rebaixamento ao final das 9 rodadas, desde que, claro, estejam priorizando a Libertadores. Exceção ao Fluminense/2008, nenhum outro finalista de Libertadores realmente passou sufoco após se dedicar 100% ao Brasileirão.
Os nove primeiros jogos vão apresentar ainda, acredite, muitos clubes que não têm sequer um padrão de jogo, apesar de quatro meses da temporada já terem andado. Tem os que trocaram de técnico, como Botafogo, Goiás e Coritiba, e aquele que de novo se poupou do Estadual, o Atlético Paranaense. Em 2013 deu certo, mas em 14 já valeu uma queda da Libertadores e não será supresa alguma ver o Furacão perder o tempo de mais nove rodadas e trocar de técnico mais uma vez. Santos, Palmeiras, São Paulo, Fluminense e Criciúma fizeram pro gasto nos Estaduais – o Peixe chegou a empolgar – mas o buraco agora é mais embaixo. O Corinthians foi mal, mas é o clube com mais recursos no País. A Chapecoense estará no lucro com o que fizer. Com 27 pontos em disputa, somar 20 ou mais é excelente e menos de 5 será preocupante.
A pausa ajudará a todos – menos talvez o Atlético, que já abriu mão do Estadual e na verdade perde alguma vantagem física para os 19 demais que descansarão um pouco. Por outro lado, alguém que começar muito bem, se aproveitando da ausência dos libertadores e dos erros dos demais, pode ver o arranque freado. Por isso não adianta se empolgar com a liderança pré-Copa e nem arrancar os cabelos com a lanterna. O recomeço vai definir, em 5 rodadas, as tendências pro resto da competição. Serão mais 15 pontos, ainda mais vitais. Como o aproveitamento médio do campeão gira perto dos 70% e o do último a não cair passa perto dos 45%, seu time deve somar algo em torno de 10 pontos para conseguir ir bem nessa etapa.
O meio do campeonato atravessa os turnos. Em 10 edições, apenas três times vencedores do primeiro turno não venceram também o campeonato: Grêmio 2008, Inter 2009 e Atlético-MG 2012. Se o seu time virar o turno na frente, bom sinal; se virar atrás, se preocupe. Em média, pelo menos metade dos clubes que viram a etapa na zona de rebaixamento acabam caindo.
Esse período do meio compreende as rodadas de 15 a 30. Serão jogos com as equipes já embaladas, mais entrosadas, com rodadas intermediárias e com raras priorizações – serão menos os que seguirão na Copa do Brasil e a Sulamericana não tem mobilizado os clubes. Será também a fase com maior pontuação em disputa: 16 jogos, 48 pontos. Se um time não pontuou até aqui, e vencer todos desta etapa, num exemplo totalmente surreal, escapa do rebaixamento. O grosso dos pontos estará aqui. E os poucos segredos terão ido embora. Muitos já terão se enfrentado duas vezes, técnicos já terão sido trocados – mas os elencos mantidos. Quem somar menos de 30 pontos a essa altura, pode se preocupar. Quem somar mais de 50, pode sonhar, quem sabe até com a taça.
Como disse antes, as etapas do BR-14 se confundem e nos confundem. Vale dizer que no pós-Copa os clubes já terão de volta seus CTs e principalmente seus estádios. Jogar em casa é sempre um trunfo, que será perdido por 8 dos clubes da Série A durante um tempo – excluo aqui as punições e também o Palmeiras, que já está adaptado ao Pacaembu. Então, em meio às análises-padrão, leve em conta mais esse fator.
Nas últimas 8 rodadas, por óbvio, a definição do campeonato. Poucos terão pernas e os elencos vão aparecer, também por conta das suspensões. Aparecerá também a conta bancária. Quem pôde trazer reforços, seja do exterior ou das séries inferiores, poderá se dar melhor. Quem não atrasar salários, também. Serão 24 pontos em disputa e a expectativa de somar 100%, já quase nula, some de vez. Muitos, porém, precisarão dessa quantia – devem se preparar para o pior. Um índice de 50% de aproveitamento costuma ser satisfatório, sendo que só o campeão deve fazer muito mais. Todos já saberão tudo sobre os outros e também quanto devem pontuar. Assim sendo, o espírito de final, esquecido por muitos até então, vai surgir a cada jogo. Costuma ser a época em que o lanterna arranca pontos dos líderes em jogos surpreendentes.
Com 10 anos de pontos corridos, caminhando para a 11a edição, os bons gestores já sabem de tudo isso e certamente têm planos para evitar os precauços. Os sinais irão aparecer ao longo do trajeto; quem tomar decisões assertivas rapidamente, irá evitar o pior ou aproveitar a melhor oportunidade para consolidar-se na frente.
Ao final da 38a rodada, fim dos jogos e hora de festa pra uns e tristeza pra outros. E de alguns advogados entrarem em campo – mas esse é assunto pra outro post.
Depois da primeira parte do estudo sobre a presença de público visitante no Brasileirão, o blog avança sobre o tema e inclui os clássicos locais nos números. A exclusão anterior tinha um simples objetivo: apontar – em tese – qual torcida “viaja” mais para ver seu clube do coração. Com os números dos clássicos locais incluídos, a conta soma também os jogos em que a torcida visitante não precisa sair da sua cidade – exceção óbvia feita ao Santos. Novamente, deu Flamengo na ponta. No entanto, a grande novidade é o aumento da vantagem sobre o Corinthians. Se sem os clássicos apenas 76 torcedores flamenguistas a mais foram aos estádios como visitantes, em relação ao Timão, somando-se os derbies locais a vantagem fica enorme:
Novamente, é necessário que se façam algumas ressalvas quanto ao estudo, tudo por conta da desorganização das federações locais nos borderôs. Os problemas são basicamente os mesmos apontados no texto anterior: a federação Mineira não discrimina o público visitante no Mineirão, o que excluiu todos os jogos com mando do Cruzeiro do estudo. Outras, como a Carioca, só passaram a discriminar o público visitante apenas na reta final do Brasileirão. Algumas federações que receberam jogos de outras praças, como a Catarinense e a Matogrossense não apontaram o valor. Novamente, vale o elogio às federações do Paraná e de São Paulo, as mais claras e transparentes em relação aos borderôs.
Dito isto, os números: talvez pela relação do novo Maracanã com o público carioca, enquanto que São Paulo ainda não tem suas novas arenas prontas – e muitos jogos foram mandados no interior, o Fla abriu enorme vantagem sobre o Timão ao se incluir os clássicos locais. Um detalhe importante, lembrado por alguns leitores: a carga de ingressos para visitantes nos clássicos em SP é de apenas 5%. A Fonte Nova, reformada, também abrigou bons públicos, em especial no Vitória x Bahia, que fez o Tricolor abrir boa margem em relação ao rival. Em Minas, só o público cruzeirense no clássico com o Galo foi computado. No jogo do Mineirão, ausência de dados. O mesmo vale para o Grenal da Arena Grêmio. O Atlético levou mais gente que o Coritiba quando visitante no clássico paranaense, mas, de fato, o público foi decepcionante nos dois jogos – o menor entre os seis principais clássicos estaduais. A exemplo de SP, o Paraná limita a carga visitante, mas a 10%.
Se o Fla é o time que mais arrasta torcida longe de seus domínios, o Goiás não tem o mesmo apelo longe do Serra. Com apenas 71 pessoas em média por jogo como visitante, nem a ótima campanha do Esmeraldino comoveu seu povo a seguir a equipe longe de Goiás.
O maior público visitante de todo o Brasileirão foi de 14.632 torcedores do Flamengo na 28a rodada, contra o Botafogo. O público total desta partida foi 31.720. No jogo, Fogão 2 a 1. O menor público visitante, exceção às atribuições de zero torcida – como especificado no texto anterior – foi de apenas 1 (um!) solitário torcedor da Portuguesa contra o Inter na 23a rodada e outro solitário torcedor do Criciúma contra o Coritiba na 35a rodada. Curiosamente, mesmo sem apoio de seus torcedores, Lusa (1-0) e Tigre (2-1) venceram estes jogos.
Nos 323 jogos computados nesse estudo (de 380 possíveis) a média de torcida visitante no Brasileirão 2013 foi de 852 pessoas. Seis times superaram essa expectativa: Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco, Grêmio e Botafogo, a grande surpresa deste índice, se levarmos em consideração a última pesquisa nacional de torcidas, que coloca na mesma ordem os quatro primeiros colocados deste estudo, com o Grêmio em oitavo no geral e o Fogão apenas na 12a posição.
O blog ainda trará outros dois estudos sobre o público visitante do Brasileirão 2013 após os festejos de Natal. Fique atento e Feliz Natal!
Qual a torcida que segue em toda a parte? A que nunca abandona, a mais fiel? Um estudo inédito feito pelo blog aponta a torcida que mais acompanhou o seu time longe de seus domínios durante o Brasileirão 2013. O resultado não chega a surpreender: excluindo os clássicos na mesma cidade (serão tratados a contento), por 76 torcedores em média por jogo, a torcida do Flamengo superou a fidelidade corintiana.
Cruzeirenses viajaram mais que atleticanos mineiros, gremistas acompanharam mais seu time do que colorados, coxas-brancas foram em maior número que atleticanos nos jogos longe do Paraná e por uma pequena margem a torcida do Bahia foi mais fiel que a do Vitória.
Aos números, no entanto, cabem algumas ressalvas. A primeira delas: a desorganização e falta de padrão dos borderôs emitidos pelas federações Brasil afora. Foram 323 borderôs pesquisados e revisados, dos 380 jogos disputados. Quase 20% das partidas não ofereceram estatísticas concretas de quantos visitantes estiveram nos jogos.
Desta forma, as equipes que tiveram mais jogos computados foram Criciúma (18 partidas) e Coritiba, Náutico, Goiás e Inter (17) enquanto as que tiveram menos jogos computados foram Flamengo, Fluminense, Santos e Portuguesa (13).
As piores federações ou estádios nesse controle são a Mineira, em relação ao novo Mineirão. Absolutamente todos os jogos com o Cruzeiro como mandante não oferecem a parcela de ingressos visitantes nos borderôs – algo a ser investigado? Além dela, a Carioca, que passou a fornecer os dados concretos apenas da metade para o fim do campeonato e as de Brasília, Ceará, Santa Catarina e Mato Grosso, que receberam partidas mas não discriminaram o público visitante.
Alguns jogos, como Santos x Flamengo na primeira rodada, saíram da conta exatamente pelo motivo acima. É público e notório que a torcida do Fla esteve em maior número que a do Peixe, mas o documento oficial não separava números. Além disso, há exemplos como os abaixo:
No caso acima, por uma questão lógica, o estudo atribuiu valor zero ao número de torcedores do Fluminense no jogo contra o Vitória. Parece evidente – e os vídeos da partida mostram isso – que havia torcida do Flu na Bahia, mas não é possível supor um número e o documento oficial atribui zero aos visitantes. Isso aconteceu em outras 19 partidas. O Náutico esteve em três delas.
As federações do Paraná e de São Paulo são as mais objetivas e claras na discriminação dos ingressos de visitantes. A lista completa dos jogos excluídos da conta – incluíndo os clássicos não registrados – estará mais abaixo; amanhã, uma nova postagem incluirá na conta os clássicos registrados. Explica-se: o estudo divide-se as torcidas que viajam ver o time e as que vão em grande número nos clássicos locais. No primeiro caso (este post) vantagem para clubes como Goiás, Náutico e Ponte Preta, por exemplo, que não jogaram clássicos; no que virá, melhor para Flamengo e Corinthians. Os jogos dos paulistanos contra a Portuguesa foram considerados clássicos.
Na tabela abaixo, os números dos visitantes excluíndo os clássicos, no total e na média. O leitor poderá notar que certos clubes que jogaram clássicos não tem nenhum jogo computado no desconto; isso acontece por conta da ausência dos dados concretos no borderô emitido pela federação local – caso do Grenal da Arena Grêmio, por exemplo.
Eis. Divirtam-se nos comentários abaixo e aguardem o estudo de amanhã, incluindo os clássicos, que apresentará resultados ainda mais polêmicos:
Santos x Flamengo
Botafogo x Santos
Flamengo x Ponte Preta
Atlético-MG x Grêmio
Botafogo x Cruzeiro
Flamengo x Náutico
Vasco x Atlético-MG
Cruzeiro x Corinthians
Cruzeiro x Inter
Vasco x Bahia
Cruzeiro x Náutico
Botafogo x Vitória
Flamengo x Atlético-MG
Cruzeiro x Coritiba
Flamengo x Portuguesa
Criciúma x Cruzeiro
Botafogo x Goiás
Cruzeiro x Santos
São Paulo x Atlético-PR
Flamengo x São Paulo
Cruzeiro x Vitória
Vasco x Corinthians
Flamengo x Grêmio
São Paulo x Fluminense
Cruzeiro x Vasco
Flamengo x Vitória
Goiás x Grêmio
Criciúma x Botafogo
Cruzeiro x Flamengo
Flamengo x Santos
Cruzeiro x Atlético-PR
Cruzeiro x Botafogo
Flamengo x Atlético-PR
Criciúma x Fluminense
Botafogo x Ponte Preta
Cruzeiro x Portuguesa
Cruzeiro x São Paulo
Criciúma x Portuguesa
Cruzeiro x Fluminense Portuguesa x Flamengo Botafogo x Atlético-MG Cruzeiro x Criciúma Criciúma x Ponte Preta Cruzeiro x Grêmio Cruzeiro x Ponte Preta Cruzeiro x Bahia
E todos os clássicos regionais.
*Agradecimentos especiais a Thiago Fagury, Vinícius Paiva e Matheus Cajaíba pela colaboração.
Os números são tão impressionantes quanto há 10 anos. O aproveitamento é de 72,5% – até a rodada do título, 34a – contra 72,4% em 2003; o ataque não chegou aos 102 gols, mas tem média parecida: 2,11 por jogo, com 72 nos atuais 34 jogos, contra 2,21 nos 46 jogos de 2003. O Cruzeiro atual também tem a melhor média de público, como há 10 anos e conseguiu o título com 4 rodadas de antecedência, contra 3 rodadas em 2003. A torcida celeste não tem do que reclamar. A não ser um certo desdém da mídia em não badalar o time de Marcelo Oliveira como fazia com o de Vanderlei Luxemburgo.
E tem razão nisso.
O Cruzeiro de 2003 tinha apenas uma coisa que esse não tem: personagens consagrados no principal eixo econômico do País. Alex foi ídolo do Palmeiras, campeão da Libertadores; Deivid brilhou no Corinthians e no Santos antes da Raposa; Zinho foi ídolo do Flamengo, Aristizábal marcou época no São Paulo e Vanderlei Luxemburgo é o técnico mais midiático do Brasil em todos os tempos – além, por óbvio, de multicampeão. O Cruzeiro de 2003 tinha o carinho e o respeito do centro do País e isso pesa na hora de avaliar a equipe. Aquele campeonato ainda contava com o Santos de Robinho na cola, coisa que o atual não teve. Sobrou contra Atlético Paranaense, Grêmio, Goiás e Botafogo, seus perseguidores mais próximos. Todos, exceção ao Fogão, clubes de outros centros.
O time celeste de 2013 foi montado discretamente. Seus principais nomes, Dagoberto e Julio Baptista, não foram titulares o tempo todo. A exceção é Dedé, zagueiro que trocou o Vasco pela Toca e, apesar de ser campeão brasileiro, paradoxalmente perdeu a vaga na Seleção. Fábio passou pelo Rio, no Vasco* sem marcar época e os grandes destaques da campanha, como Everton Ribeiro e Nilton, Egídio e Ricardo Goulart, acabaram preteridos em seus clubes de origem (Corinthians, Flamengo e Internacional). Personagens como Leandro Guerreiro e Luan fecham o mosaico de “párias” chefiado por Marcelo Oliveira, um técnico discreto, avesso à badalação e calmo nas entrevistas. Oliveira que tinha até então como maior feito a chegada à duas finais de Copas do Brasil seguidas com o Coritiba.
Questiona-se a qualidade técnica do campeonato, como se fosse o mais fraco dos últimos tempos, na contramão do fato do campeonato contar com os campeões do Mundo (Corinthians) e da Libertadores (Atlético-MG). De ter trazido personagens como Seedorf, Pato, Alex, Juninho, Forlán e outros. De ser o primeiro campeonato das novas Arenas para a Copa.
Debate-se o regulamento, como se os pontos corridos não fossem emocionantes, o que acaba indiretamente depreciando a campanha celeste. Curiosamente, muitas vezes são as mesmas vozes que pedem organização e moralidade no futebol brasileiro. E o Cruzeiro, com sua estrutura fantástica, salários em dia e sem entrar em salários exorbitantes, levantou a taça. Seguido pelo Atlético Paranaense, que tem perfil parecido, por Botafogo e Goiás, que mantiveram técnicos e acreditaram em projetos e pela exceção à essa regra, o Grêmio, de alto investimento e trocas de técnicos.
A falta de badalação ao Cruzeiro 2013 de fato em nada diminui a festa celeste. Foi um título bem à mineira, discreto mas muito eficiente. Se não querem badalar a Raposa, não badalem; o Cruzeiro não carece.
*Obrigado aos atentos leitores que relembraram a passagem de Fábio pela Colina. Fabio foi revelado no União Bandeirante-PR.
Atenção defensores do ‘mata-mata’ no Brasileirão: domingo tem final do campeonato de 2013 e o Cruzeiro só ficará com a taça se vencer o Grêmio por 2-0. Isso no exercício proposto pelo blog: e se o Brasileirão fosse ‘mata-mata’ e não pontos corridos?
Bem, ressalto que gosto dos ‘matas-matas’, tanto é que temos a Copa do Brasil pegando fogo nessa reta final para atender esse anseio. Mas, para aqueles que acham que essa fórmula também deveria ser usada no Brasileirão – não é o meu caso -, como foi até 2002, uma novidade: em tese, o campeonato não seria tão diferente assim do que vemos. Na semana em que podemos ter o campeão de 2013 definido, teremos também o confronto que seria a final naquele formato, se usarmos os resultados dos confrontos entre os times como uma (concreta) base para a suposição. Possívelmente teríamos os mesmos times na Libertadores e grandes chances de repetirmos também o campeão; já na ZR, modificações importantes.
Abaixo, a tabela do campeonato ao final do 1o turno, o que equivaleria à fase classificatória no formato antigo.
Ao invés de dois cariocas, três paulistas estariam na pior: São Paulo e Portuguesa acabariam rebaixados para a Série B 2014, ao lado de Ponte Preta e do já rebaixado Náutico. O G8 deixaria de fora o Goiás (que está fora também do G4, ao menos enquanto esse artigo é escrito) e o Coritiba, pela gordura acumulada nas primeiras rodadas, quando chegou a liderar a competição, estaria dentro. O Corinthians, de um 2o turno péssimo, estaria entre os finalistas. E o G4 seria o mesmo, mudando a ordem apenas – novamente, ao menos enquanto esse artigo é escrito.
OS CONFRONTOS
Definida a primeira fase, teríamos a fase de quartas de final com quatro confrontos. Para efeito de simulação, usei os resultados dos dois jogos entre as equipes, levando em consideração o regulamento antigo: o time de melhor campanha joga a segunda em casa e por dois resultados iguais. Aproveitei também para levantar os públicos de cada jogo, com ressalvas comentadas. A presença de público nos estádios é uma das críticas aos detratores dos pontos corridos, mas perceberemos que jogo bom leva público de qualquer jeito.
O Coritiba recebeu o Cruzeiro no Couto Pereira no 2o turno no Campeonato Brasileiro e venceu por 2-1 (30a rodada), com um pênalti polêmico marcado para a Raposa. Esse seria na verdade o 1o jogo das quartas entre os times – a melhor campanha sempre decidindo em casa. O Coxa levaria a vantagem do empate para BH, mas, nesse exercício, o jogo no Mineirão seria decidido – como foi – por Luan, que marcou o gol solitário no 1-0 celeste (11a rodada). Os jogos tiveram bons públicos: 25.108 pessoas estiveram no Mineirão e 14.402 foram ao Couto Pereira. O Cruzeiro avançaria para pegar o Atlético Paranaense.
O Atlético enfrentaria o Corinthians e, como já virou regra quando se trata do campeão do Mundo 2012, foram dois empates. Em Mogi-Mirim, punido com uma perda de mando, o Timão recebeu o Furacão em um jogo em que criou pouco e viu o adversário ser melhor, mas segurou o 0-0 (27a rodada). Com isso, só a vitória classificaria os paulistas em Curitiba. No jogo da Vila Capanema, novo empate: 1-1 (8a rodada), com Alexandre Pato salvando o Corinthians da derrota debaixo de muita chuva. Foi o primeiro jogo de Vagner Mancini no Rubro-Negro, que sairia dali para o G4. O público em Mogi foi de 15.581 pessoas; sem a Arena – em obras para a Copa 2014 -, o Atlético mandou o jogo na Vila para 6.799 pagantes.
Na outra chave, o Botafogo não tomou conhecimento do Santos nos dois confrontos diretos. Com grande atuação de Elias, o Fogão quebrou uma invencibilidade de mais de um ano do Peixe na Vila (21a rodada), ainda com Muricy Ramalho no banco. O “jogo de volta” (2a rodada) aconteceu em Volta Redonda, por conta do uso do Maracanã pela Fifa. Novo 2-1 para os cariocas, selando a suposta vaga para as semis. Na Vila Belmiro, 11.301 pessoas viram o duelo alvinegro, contra apenas 2.344 pessoas no jogo de Volta Redonda – o menor público desta suposta série.
O confronto que mais chamaria a atenção nas quartas de final sem dúvida seria o Grenal. Grêmio e Internacional mediriam forças pela semifinal e dois empates levariam o Grêmio, pela melhor campanha, para as semis. O primeiro jogo da série seria, por coincidência como todos acima, no 2o turno. Em Caxias, o Inter abriu o placar, permitiu a virada e buscou o empate contra o Grêmio, 2-2 (30a rodada). No primeiro clássico da Arena tricolor, foram três expulsões com Barcos e Leandro Damião marcando os gols do 1-1 (11a rodada). Na Arena, 37.434 pessoas viram o duelo; em Caxias, com o Beira-Rio em reformas para a Copa 2014, foram 15.273.
Nas semis, Cruzeiro x Atlético Paranaense e Grêmio x Botafogo, os times que mais estiveram no G4 nesse Brasileirão.
O Furacão recebeu o Cruzeiro na Vila Olímpica do Boqueirão numa quarta à tarde e abriu 2-0 (2a rodada), mas cedeu o empate. Com isso precisaria de uma vitória no Mineirão, na volta (21a rodada). Mas um gol de Nilton definiu o placar de 1-0 para a Raposa, finalista nessa suposição. Os públicos: 30.210 no Mineirão e 3.366 na Vila Olímpica.
Na outra chave, o Grêmio ficaria com a vaga após vencer duas vezes o Botafogo: 2-1 na Arena, com golaço de Seedorf e dois gols de Vargas (7a rodada) e 1-0 no Rio, com um homem a menos e um golaço de Alex Telles (26a rodada). O público em Porto Alegre foi de 28.014 enquanto que 14.418 foram ao Maracanã.
A grande decisão seria no próximo domingo (10/11) no Mineirão. E o Cruzeiro precisaria fazer 2-0 para ser campeão. Isso porque no “jogo de ida” (14a rodada) o Grêmio fez um expressivo 3-1 na Raposa – uma das seis derrotas mineiras no campeonato. O Cruzeiro jogava bem e até mandava na partida, com as melhores chances. Até que Everton Ribeiro perdeu um pênalti, defendido por Dida, e teve Souza expulso. Aí Barcos, Kléber e Werley brilharam, com Nilton marcando para a Raposa. A 1a final foi vista por 16.529 pessoas. A segunda, no próximo domingo, promete quebrar o recorde de público do Novo Mineirão, num desafio contra o Atlético-MG, que levou 56.577 pessoas na final da Libertadores 2013.
Nota-se que os públicos melhoraram no 2o turno, o que mostra o aspecto cultural do torcedor, de “só ir quando vale” – embora todos os jogos tenham o mesmo peso. Evidentemente, como pode-se ver por exemplo na Copa do Brasil, mesmo os jogos com públicos menores nesse exercício teriam mais apelo na fase final. Os jogos seriam todos parelhos – à exceção das duas vitórias do Botafogo sobre o Santos e do Grêmio sobre o Botafogo, séries equilibradas.
Para os defensores do mata-mata no Brasileirão, uma conclusão: a cada rodada, uma decisão nos pontos corridos. Basta entender isso antes de ficar fazendo contas nas rodadas finais.
A pergunta é direta, simples e objetiva: quem paga a conta pelos prejuízos causados aos clubes e à sociedade pelas nominadas “Torcidas Organizadas”?
Nesta semana, Cruzeiro, Atlético Paranaense, São Paulo e Goiás entraram para a lista de clubes que terão prejuízos materiais e técnicos por conta de meia dúzia de arruaceiros que se escondem sob o símbolo das torcidas “organizadas”, como se fossem intocáveis. E talvez sejam: não pagam a conta de nada, por mais que sejam facilmente identificados individualmente. Ninguém é preso ou punido. A conta estoura no torcedor comum e no próprio clube, que de fato é quase tão culpado quanto, pois acaba dando guarida.
Ou é mentira que várias diretorias Brasil afora dão espaço aos “organizados” por conta de apoio político? Pode ser em forma de ingressos, cargos no clube ou tolerância com os chamados protestos por conta de desempenho. Os organizados fazem parte das vidas dos clubes, normalmente de maneira negativa.
Ok, virão aqui os defensores das TOs e lembrarão que boa parte da festa parte deles, que “estão ao lado do clube onde ele joga” (nunca é demais lembrar que uma passagem de avião em dia de semana é artigo de luxo), que alimentam a magia dos estádios e tudo mais. Bem, há algum fundamento e generalizar é errado. Assim como em todas as classes, há os bons e os ruins. Nas TOs, também. Há gente de bem, interessada apenas em fazer festa e curtir seu clube. Mas ao serem coniventes com os seguidos episódios de violência e confusão, os bons dão guarida aos maus. Assim como um dirigente de clube é responsável pela sua gestão, os organizados deveriam se responsbilizar pelo todo. Não o fazem.
“É impossível ter controle de uma multidão”, dizem. Fato. Mas é possível faturar com ela. A grande receita das organizadas vem da vampirização das mesmas em cima da marca do clube. São as camisas que vendem, por exemplo, a custo mais baixo que os (caros) uniformes oficiais, que dão verba aos comandos. Isso sem que se repasse um centavo aos cofres dos clubes, que invariavelmente aceitam essa situação pelos interesses já citados.
E se o São Paulo, em uma recuperação espetacular com Muricy, acabar rebaixado à Série B por ter perdido o direito de mandar seus jogos no Morumbi? Ou o Atlético perder sua vaga na Libertadores por não poder jogar mais em Curitiba, ou então o Goiás, que perdeu seu direito de decidir a Copa do Brasil no Serra Dourada? Pior: se o Cruzeiro ver seu título ameaçado pelo prejuízo técnico de não jogar em Belo Horizonte em partidas decisivas?
Soltos por aí, os arruaceiros seguem tomando conta do futebol. E quem paga a conta? Você, é claro.
Acabo de ler a mini-série “Superman: Red Son”, ou “Filho Vermelho”, que trata a realidade alternativa, nos quadrinhos, de como seria o Mundo se o foguete de Kal-El, partindo de Krypton, tivesse caído na Ucrânia e não nos EUA. Descoberto por Stalin, o Super-Homem tornou-se um símbolo do comunismo. Mesmo a DC Comics sendo uma editora norte-americana, a trama passa longe de condenar o sistema comunista e mais longe ainda das patriotadas típicas de Hollywood. Escrita por Mark Millar, mostra a ascensão do sistema sob o comando do Super-Homem após a morte de seu “pai” político, Stálin, na mesma medida em que ruía o capitalismo – e por consequência, os EUA. O Mundo, exceção feita aos norte-americanos, adere ao comunismo e vive seu momento mais glorioso. Ninguém passa fome, as doenças têm cura, não há criminalidade e sequer chove sem que o líder Super-Homem verifique se todos saíram de casa com seus guarda-chuvas. Enquanto isso, nos EUA, um indignado Lex Luthor tenta combater, sem sucesso, a ascensão comunista. Até que ele descobre o calcanhar de Aquiles do Super-Homem.
Qual seria e o que isso tem a ver com Rogério Ceni e o São Paulo? Comando e controle.
Luthor faz com que o Super-Homem perceba que, por melhores que sejam suas intenções, ele passou a ser o grande controlador de toda a humanidade. Ninguém tem liberdade de ação ou pensamento. Todos devem pedir autorização, até para errar, ao comandante. E erros, claro, não são bem-vindos. O Super-Homem se torna o ditador que ele sempre combateu e via no comando capitalista norte-americano.
Rogério Ceni é o maior ídolo da história do São Paulo, não há dúvidas. Poucos fizeram tanto por um clube dentro de campo. Ceni é politizado e não foge dos debates. É liderança e negar tudo o que ele fez de bom pelo São Paulo é lutar contra a história. Mas tudo na vida tem um tempo.
Ao atirar contra Ceni, o ex-técnico Ney Franco abriu feridas no clube do Morumbi e talvez não tenham dado às declarações dele a real importância. Dividiram-se os críticos entre os que não suportam ver a imagem de Ceni arranhada e os que detestam o goleiro são-paulino por tudo que ele representa. Conheço Ney Franco pessoalmente e não conheço Rogério Ceni no mesmo grau. Acompanhei o trabalho de Franco no Atlético, em 2008, e no Coritiba, de 2009 a 2010, na pior fase da história do clube. Ney Franco é bom sujeito e bom caráter. Pode até não ter agido bem ao falar bem depois de ter saído do clube, mas, afinal, não é o que todos esperávamos e sempre esperamos? Que se escancarem as “caixas-pretas” do futebol? Franco, como Luthor, pode até ser pintado como vilão aos são-paulinos, mas deve ser melhor entendido, não dividido entre os que amam e os que odeiam.
Colocar todo o peso da crise do São Paulo nos colos de Ceni é demais, mesmo pra ele. A crise envolve questões políticas, ambiente interno e até qualidade técnica dos jogadores. Ceni não é o único a falhar nem o único a ter proteção no clube. Mas é o símbolo, não só do time, mas do clube num todo. Quando Franco traz elementos de vestiário, dizendo da força do capitão do São Paulo, é preciso pensar que peso isso tem na hora em que ele, e não um atacante, decide cobrar um pênalti; na hora em que um afobado Aloísio coloca a mão na bola que entraria e traria ao menos um empate no derby com a Portuguesa; no momento em que se quer mexer em Luís Fabiano ou no próprio Ceni, mas não se faz, para evitar conflitos internos.
Nos quadrinhos, o Super-Homem sai de cena, derrotado pelo arqui-inimigo com o argumento já citado. Luthor aproveita tudo o que foi construído de bom pelo comunismo, reinstaura o capitalismo, muda-se o controle e o Mundo se sente mais livre. É o caminho para uma reação são-paulina em campo? Difícil dizer.
Mais difícil ainda é ver se alguém tem forças e coragem de se opor aos ícones do clube.
Não se pode aceitar com tanta naturalidade que o Barcelona tenha feito 8-0 no Santos. Nenhum grande clube brasileiro – diria até que nenhum que dispute a Série A – pode levar oito gols e entender, com humildade, que o Barça é poderoso demais. Especialmente um clube com a história e a camisa do Santos.
Sabe-se que o Santos está longe dos seus melhores momentos. Tem um time titular envelhecido e enfraquecido com a saída de Neymar – justamente para o Barcelona. Mas o Santos é um dos principais clubes do Brasil. Do futebol mais vitorioso do Mundo, o que revela mais talentos, o que mais ganhou jogos e títulos na história desde que a bola é redonda. Perder para o Barcelona é aceitável; perder de 8 e aceitar, não. Para nenhum time brasileiro.
Tão ruim quanto, embora muito menos impactante, foi ver o São Paulo “comemorar” a derrota para o Bayern de Munique por “apenas” 2-0. O placar não foi maior porque o São Paulo é melhor que o Santos – embora, vejam, perdeu no confronto direto no Brasileirão. Mas tem jogadores mais cascudos, mais ambientados e que não sentiram o mesmo impacto que os atletas santistas ao visitar um poderoso europeu.
Santos e São Paulo deveriam ter vencido Barça e Bayern? Há que ser realista: não conseguiríam, hoje. Talvez o Atlético Mineiro, campeão da Libertadores, consiga fazer frente ao Bayern no fim do ano, jogando como Inter, São Paulo e Corinthians jogaram contra Barcelona, Liverpool e Chelsea: como o time menor. Jogando consciente de suas limitações, marcando duro e aproveitando os erros. Esse é o quadro realista.
Mas por que raios os clubes brasileiros, soberanos na América, não conseguem fazer frente aos Europeus a ponto de uma das principais camisas do País ter sido sumariamente humilhada no Camp Nou? Porque o futebol brasileiro não se importa com seus clubes.
Falta à CBF uma diretoria de clubes. Aquilo que muita gente chama de Liga, com ou sem racha com a atual direção. Um grupo que faça com os clubes o mesmo que é feito com a Seleção. Falta intercâmbio. Falta enxugar os Estaduais, permitindo que jogadores e técnicos possam ir à Europa ou mesmo até a vizinha Argentina fazer uma boa pré-temporada.
Falta fazer com que chineses, coreanos e japoneses saibam que Neymar era do Santos, Zico foi do Flamengo, entre outros, e se interessem tanto pelos brasileiros quanto pelo Manchester United, ajudando-os no aumento de receitas.
Falta valorização interna. A distância aberta para o Barcelona é a mesma, por exemplo, que se tenta criar internamente, quando se paga mais em cotas de TV para alguns, desequilibrando o campeonato. O que já acontece na Espanha, que tem o Barça como um dos dois pólos, mas que tem um “país”, a Catalunha, trabalhando para si. Não o que acontece na Alemanha, do multi-campeão Bayern, que vê em Borussia Dortmund, Schalke 04, Bayer Leverkusen, Hamburgo e alguns outros rivais reais na briga pelo título nacional.
Por mais dolorosa que possa ter sido a goleada sofrida pelo Peixe, ela deve ser discutida abertamente por quem se importa com o futebol brasileiro. Santos, São Paulo e outros devem ir mais vezes ao exterior, como o Atlético Paranaense foi no começo do ano, disputar um torneio na Espanha em detrimento do Estadual. Como Cruzeiro e Fluminense fizeram nos EUA, durante a Copa das Confederações. Devem ir, interagir, vender sua marca, estudar mercados, ver novos jogadores. Devem contar também, principalmente, com a ajuda da CBF, desde repensar o calendário e a distribuição de renda até a conseguir que os clubes visitem esses mercados mais frequentemente.
Vai acontecer? Não sei. Depende da boa vontade de quem comanda o futebol brasileiro. Já as goleadas continuarão acontecendo, se nada disso for repensado.
Outro lado
Se a distância entre os brasileiros e os principais europeus ficou escancarada na derrota do Santos para o Barcelona, nas Américas, a economia do País está fazendo a diferença. Mesmo com todas as mazelas já citadas, pelo quarto ano seguido, o campeão da Libertadores é brasileiro; pelo nono ano seguido um brasileiro esteve na decisão, sendo que em 2005 e 2006 a final foi entre dois brasileiros. Nos últimos 21 anos – período que compreende também a consolidação do Plano Real – apenas em três ocasiões a final não teve ao menos um clube brasileiro. Do São Paulo de Telê ao Galo de Cuca, apenas em 1996, 2001 e 2004 a decisão deixou de ter um brasileiro, vagas que foram ocupadas pelos gigantes argentinos Boca (duas vezes) e River, América de Cali e Once Caldas da Colômbia e Cruz Azul do México.
Durante esse mês alguns clubes europeus visitaram a América invertendo o intercâmbio. Foram oito jogos com Porto de Portugal e os espanhóis, Sevilla e Atlético de Madrid visitando Nacional do Uruguai, Estudiantes de La Plata, Barcelona de Guayaquil, Deportivo Anzoátegui da Venezuela, Atlético Nacional da Colômbia, Universidade Católica do Chile e Sporting Cristal do Peru. No placar geral, 5 vitórias européias, 2 americanas e 1 empate. É difícil o exercício de colocar os brasileiros no comparativo. É possivel imaginar que se os três europeus ficassem apenas pelo Brasil, tivessem resultados piores. Mas é subjetivo e a realidade mais próxima é imaginar os brasileiros acima dos vizinhos, no nível dos médios europeus e abaixo dos grandes. Tanto é que o São Paulo acabou derrotando o Benfica, vice-campeão da Liga Europa.
É um posicionamento de mercado bom o suficiente para o que representa o futebol brasileiro?
Começou nesta terça (30) a Copa Sulamericana 2013, daqui por diante, “o atalho mais fácil para a Libertadores”. Pelo menos é essa a expectativa de nove clubes brasileiros, com a mudança no regulamento que integrou os times da Libertadores à Copa do Brasil, tornando o antigo atalho mais espinhoso. Clubes da Série A, como Coritiba, Ponte Preta, Bahia e Vitória foram surpreendidos por Nacional do Amazonas (eliminou os dois primeiros), Luverdense-MT e Salgueiro-PE, equipes que estão nas Séries D e C do Brasileirão. Como prêmio de consolação, entraram na Sulamericana 2013 – bônus que atingiu até mesmo o Sport, hoje na Série B nacional.
Depois que a bola rolar nesta terça para Liga de Loja, do Equador, e Deportivo Lara, da Venezuela, a teoria poderá se tornar prática. Apesar da imensa maioria dos nomes da Sula assustarem menos os participantes do que equipes como o campeão da Libertadores Atlético-MG, do Mundial, Corinthians e o líder do Brasileirão, Cruzeiro, entre outros, não só de coadjuvantes é feita a competição dois da Conmebol. Na tabela abaixo, você pode ver os cruzamentos possívels até a decisão.
Equipes como o River Plate da Argentina (há também o River uruguaio nessa competição), os também argentinos Vélez e Lanús, a Universidade Católica do Chile, o Atlético Nacional da Colômbia, o Cerro Porteño do Paraguai e o Peñarol, do Uruguai, são tão postulantes ao título quanto os brasileiros. Outros ilustres desconhecidos, como o impagável El Tanque Sisley do Uruguai, o Deportivo Pasto da Colômbia ou o Inti Gás, da empresa peruana fornecedora de gás combustível, deixam a Sulamericana com a cara de uma grande competição entre bairros.
É grande a chance de um brasileiro estar na decisão, mas dependerá de Ponte ou Criciúma (quem avançar no duelo interno) fazer a primeira final nacional no torneio, que já teve dois brasileiros campeões: Inter, em 2008, e São Paulo, o atual detentor do título – que por isso entra diretamente nas oitavas de final. O Tricolor Paulista poderá encarar Bahia ou Portuguesa nas quartas. Baianos e paulistas têm na mesma chave o Atlético Nacional da Colômbia, campeão da Libertadores em 1989 e foi 12o no último campeonato colombiano – o Clausura 2013 acabou de começar.
O surpreendente clássico pernambucano na Sula pode definir um semifinalista contra outro brasileiro. Sport e Náutico se encontram no torneio sulamericano depois de o Timbu comemorar muito a vaga internacional no jogo do Brasileiro 2012 que definiu o rebaixamento rubro-negro. Quis o regulamento que os times se reencontrassem justamente na volta do Náutico à uma competição da Conmebol depois de 45 anos. Quem avançar, tem como mais tradicional possível adversário na chave o Barcelona de Guayaquil. Para que as quartas tenham duelos brasileiros, Coritiba ou Vitória devem superar equipes de menor expressão, naquela que pode ser considerada a chave mais fácil dos brasileiros na disputa. Coxa e Leão já se enfrentaram na Sulamericana. Em 2009, uma vitória por 2-0 pra cada lado, em casa, e o Vitória avançou nos pênaltis. Se o Coxa passar e encontrar o Barça equatoriano, reedita um confronto da Libertadores 86, quando foi 7o colocado.
Do outro lado, Ponte Preta ou Criciúma tem vida indigesta até uma eventual final. Quem passar, pode pegar o Colo-Colo nas quartas. O time chileno, campeão da Libertadores em 1991, foi 10o no Torneio “Transición”, que fez com que o calendário chileno se adequasse ao europeu. A nova competição começou no dia 27/07 – e o Colo-Colo perdeu na estreia, 0-4 para o Audax Italiano. Depois o caldo pode engrossar ainda mais, com possibilidades de confrontos com o também chileno Cobreloa, o tradicional uruguaio Peñarol ou o argentino Vélez Sarsfield.
Copa Sulamericana e Copa do Brasil, já há algum tempo, são tratadas apenas como um atalho para a Libertadores, o que é um equívoco. Vale sempre lembrar que vale taça continental e também duas vagas: uma para a Recopa Sulamericana, contra o Atlético-MG em 2014, e uma disputa intercontinental, a Copa Suruga, que opõe o vencedor da Sula ao da Liga Japonesa. E taça no museu é o que interessa, afinal.