Aproveitei o feriado prolongado para visitar familiares no norte do Paraná. A predileção dos paranaenses nortistas pelo futebol de São Paulo não é mais nenhuma novidade e já foi abordada no Videocast #005.
Mas graças a alguns novos amigos e a TV a Cabo, não é mais impossível acompanhar os times da capital por lá. E assim sendo, consegui ver no sábado um pouco dos jogos do final de semana, com as derrotas de Atlético e Coritiba e a vitória do Paraná, no finzinho do jogo.
Entre um jogo e outro, apesar do assunto principal na região ser Corinthians x Santos, alguns se interessaram em saber como anda o futebol paranaense. Respondi que incorremos num erro, amparados sobre uma leitura errada do conceito de “isonomia”: a de que os três são iguais entre si e sempre que há uma análise, deve ser feita em conjunto. É um erro clássico, que mais atrapalha do que ajuda os clubes locais. Não são iguais, especialmente nesse momento. E cada qual deve ser lido e analisado como exclusivo.
O Coritiba, por exemplo. Começou mal o Brasileiro, mas dado o equilíbrio da competição, uma solitária vitória o mantém longe da famigerada zona de rebaixamento. Mas o Coxa, único representante paranaense na elite nacional, não deve ser comparado aos rivais sob qualquer prisma.
O peso de uma análise sobre o Coritiba deve ter somente o seu momento. E no jogo contra o Flamengo ficou claro que o problema está na ausência de um camisa 9 competente. O time do Flamengo é fraco. E ao repatriar Adriano e manter o reinado da balbúrdia em seu elenco, o time carioca deve sofrer nesse Brasileirão. No entanto, dominar o jogo durante boa parte do tempo não impediu o Coxa de perdê-lo. Ao contrário: à distância, o placar de 1-3 é incontestável.
A verdade é que dentro das expectativas, o Coritiba tem mesmo que se dedicar ao máximo aos dois jogos da Copa do Brasil que o separam da final. E então tentar o único título nacional que passa a ficar ao alcance dos times da terrinha. A longo prazo, será impossível competir com Corinthians, São Paulo, etc., dado o poderio financeiro desses clubes. Enquanto o Coxa pena para achar um 9 que cabe no bolso, o Corinthians dispensa Liédson. Disse aos colegas do interior que não se deve esperar mais que um 8o a 12o lugar desse time do Coritiba, mas que o São Paulo – time da preferência de alguns por lá – que bote as barbas de molho, porque em mata-mata, há a possibilidade.
Dentro do nosso costume “isonômico” de tratar o Trio, diferente entre si, da mesma maneira e com o mesmo espaço, o maior crime que se comete é com o Paraná Clube.
Equiparar o Tricolor – outrora até superior em campo e em patrimônio – à dupla é retardar a recuperação do clube. É exigir de quem não tem recursos o mesmo poder de fogo dos demais. Em Maringá, onde também estive, alguns assistiram aos jogos contra os Grêmios pela Série Prata. Ou ao menos disseram que assistiram, já que a própria cidade não sabe quem abraçar entre os dois clubes locais. Fato é que o Paraná, curiosamente o único a vencer no final de semana, não pode ser cobrado no nível dos outros clubes da capital. Tem menor aporte, menor poder financeiro. Briga para voltar à elite paranaense e se manter na Série B nacional. Será um ano a se comemorar se as coisas acabarem assim, com um resgate mais humilde. E isso deve ser passado ao torcedor. O Paraná hoje é menor que os rivais – o que não significa que o amor da torcida, buscando apoiar, participar e compreender, deva ser.
A decepção fica por conta do Atlético.
Mais do que o elenco fraco (foi vice-campeão em um campeonato de dois clubes, com derrotas e tropeços para equipes semiamadoras como o Roma de Apucarana), ou as invencionices do técnico, o problema atleticano é psicológico. O clube segue rachado. Maior orçamento da Série B, o Furacão passa longe de fazer jus ao apelido.
Em campo, um time que não tem laterais, tem apenas um zagueiro, um volante e um meia já em idade avançada, repatriou eternas promessas e fez apostas duvidosas em reforços. Um time barato, mas ineficaz. E acredito que seis meses depois da posse da nova gestão, já se possa fazer essa avaliação. E aqui entramos no real problema do Atlético, que tem recursos para buscar as soluções no gramado: a política. Criticar as escolhas da atual gestão não significa esconder o que foi mal feito no passado. Ao contrário: o passado, passou.
O Atlético hoje se escora nos erros de uma gestão infeliz em 2011 e na revolução de 1995, como se isso bastasse para que o time vencesse times de poder de fogo muito menor, como Boa Esporte e CRB. O passado vitorioso não garante um futuro vencedor, nem a canonização de quem o fez. A diretoria atual vive um estado de negação. Um distúrbio psicológico que impede os gestores de assumirem escolhas erradas e mudarem o rumo das coisas. Quem critica, é contra, é “talibã”, é adversário.
Pior do que a negação é a ausência total de compromisso com a transparência no encaminhamento do projeto de futebol do clube. A gestão de futebol jamais veio a público explicar como o Atlético retornará à elite nacional, critérios de contratação e dispensa, padrão de jogo e tudo mais; limitam-se a dizer o óbvio: o projeto é subir. Em uma das poucas aparições públicas, o diretor de futebol atleticano se mostrou indiferente às cobranças de alguns torcedores. Ao que parece, a cúpula rubro-negra vive em um mundo maravilhoso, onde em breve, mesmo sem reforços, esse time jogará como nunca e ascenderá à elite sem dificuldades. E quando isso acontecer, ai dos “detratores”. Nesse racha, nesse cenário, o Atlético está andando para trás.
Foi então que um dos colegas soltou um “que pena” e voltou a falar de Corinthians x Santos. Sequer pude condená-lo. Mas, como disse no videocast, ao menos o Coritiba terá uma chance, depois de amanhã, de tentar mudar um pouco essa história.