Béla Guttmann já deve ter até reencarnado (pra quem acredita), mas caso não, ele esteve hoje em Amsterdã, com a camisa 2 do Chelsea, atendendo pelo nome de Ivanovic. Se você não acredita em reencarnação, acredite ao menos que a maldição do hungaro falecido em 1981 existe.
Não que o Chelsea não tenha merecido o título, longe disso. Mas os requintes de crueldade que impediram a conquista do Benfica na Liga Europa, em jogo que o Terra transmitiu ao vivo para todo o Brasil, tem a marca de Guttmann. Para quem não conhece a história, segue: Béla Guttmann era o técnico do Benfica bicampeão da Champions League em 1961 e 1962, que contava com Eusébio no elenco, entre outros astros encarnados. Ao final da temporada vitoriosa, soube que seu contrato não seria mais renovado após pedir um aumento salarial. Praguejou: “Nem daqui a cem anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim.”
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Guttmann seguiu sua carreira, tendo comandado outras grandes equipes, entre elas o rival FC Porto, o Milan da Itália, o Hónved, da Hungria (com Puskás no elenco), o Peñarol do Uruguai e até o São Paulo FC, por quem foi campeão paulista em 1957. Mas a maldição persistiu.
O Benfica, com o esquadrão comandado por Eusébio, chegaria a outras decisões européias ainda naquela década. Além destas, chegaria em outras ao longo da história. Mas nunca mais seria campeão. Foi vice da Champions em 1962/63 (Milan), 1964/65 (Internazionale), 1967/68 (Manchester United), 1987/88 (PSV Eindhoven), 1989/90 (Milan) e vice da Copa UEFA em 1982/83 perdendo o título para o Anderlecht, da Bélgica, antes da final de hoje.
O já falecido técnico hungaro não conseguiu extender sua maldição ao FC Porto, embora tenha praguejado contra todo Portugal. Os rivais dos encarnados levaram a taça da UCL em duas ocasiões (1986/87 e 2003/04) e da Liga Europa em outras duas (2002/03 e 2010/11). Mas na Luz, em Lisboa, Guttmann segue fazendo sombra, especialmente em uma semana em que o clube lisboeta pode ter perdido dois títulos com gols no último minuto.
Seria muito simplista, lógico, atribuir a isso o título deste Chelsea poderoso – que, diga-se, não jogou tão bem na final – que levantou a Champions League e a Liga Europa em sequencia nos últimos dois anos. Seria muito cruel dizer que a boa jogada de Fernando Torres e a movimentação certeira e cabeçada precisa de Ivanovic só aconteceram por conta da maldição de Guttmann. Não. São frutos do investimento de Roman Abramovich, que pegou o tradicional time londrino e mudou o status quo do clube, de médio inglês a grande europeu. E que deve crescer ainda mais nos próximos anos por conta do seguido investimento financeiro, especialmente se confirmar a contratação do técnico português José Mourinho.
Um técnico português com o Chelsea fazendo o mesmo investimento que o Benfica não quis fazer há 51 anos. Talvez, mesmo no além mundo, seja hora dos benfiquistas tentarem dar um aumento a Guttmann, antes que a fila aumente ainda mais.
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