“Enquanto a Ponte não for campeã eu não morro”, sempre disse Eduardo Polis, 77 anos, à neta Camila. Ela mais que ninguém está com o coração apertado. A Ponte começa nesta quarta a disputar seu título mais importante – pode ser o primeiro deles – contra o Lanús, da Argentina, no Pacaembu em São Paulo. Camila quer ver o avô feliz, mas vivo por muito tempo para comemorar.
‘Seo’ Eduardo, 77, dedicou uma vida pela Ponte Preta no anseio do grito de campeão. São 62 anos de Macaca. Paulistano, “seo” Eduardo foi à Campinas pela primeira vez em 1951, então com 15 anos, ver um duelo contra o Palmeiras. Foi amor à primeira vista. A final, claro, mexe com ele.
“A gente esperou muito tempo para ter título. Não podia ser um título vagabundinho que nem paulista, essas coisas. Tem que ser um grandão como esse aí.”
Carregar a Ponte no coração deixou de ser sentido figurado. Eduardo tem quatro delas, de safena. O time foi tomando conta da vida dele desde aquele 1951. “Enfiamos 3 a 1 neles. Coisa linda”, conta. Depois, mudou-se para a cidade da Macaca. Viu bons e maus tempos. E jurou: não vai morrer sem ver um título da Ponte. Nunca esteve tão perto desta alegria.
“Sabe por que [a Ponte Preta chegou na final]? Porque o Juiz não era brasileiro. Se não fosse isso… já tinham inventado pro São Paulo. Agora ficou mais difícil agora, porque tem a TV, mas em 1981 foi assim”, lembra, revoltado, das finais do Paulistão daquele ano. A idade septuagenária não o tornou mais manso com os rivais: “Os Bambis ficaram com medo de jogar aqui, mas nós fomos lá e enfiamos três e depois mais uma banana neles em Mogi”, brinca.
As provocações aos adversários da Ponte são naturais pra quem foi presidente até de torcida organizada, a “Ponterror”. O maior alvo, claro, é o Guarani: “Eu que inventei esse negócio de chamar eles de Galinhas. Sabe como é, vivem em puleiro, sobem no pau…”, provoca os eternos adversários. “Eu não gosto deles, são muito metidos. Vim pra Campinas em 1954, passei a gostar da Ponte.”
O Guarani não é o único alvo da ira do fanático vovô. “Você sabia que o Ruy Rei é contratado do Corinthians até morrer? Pois é…”, dispara, aderindo à uma teoria decantada em todos os lados que renegam o vice campeonato paulista de 1977, perdido para o Corinthians. Outros vieram depois, em 79, 81 e 2008. A Ponte sempre acabava batendo na trave.
A chance de finalmente gritar “É Campeão!” mexe com “seo” Eduardo. “Agora você vai ver se a Ponte for campeã, essa turma que me aguarde.”
Não vencer título algum não fez Eduardo amar menos a Macaca. “Faz 113 anos que eles falam que não tem título, nem precisa. A Ponte é titular. É a primeira do futebol brasileiro”, conta do orgulho de ser um dos clubes mais antigos no futebol do País, ao lado do São Paulo-RS. O fato virou até marchinha, composta por Polis nos tempos de torcida organizada:
“Le le le le-ô
O futebol na Ponte Preta começou
Desde 1900, o esporte nacional
A Ponte Preta é matriz o resto é filial”
A família, como Camila, vive a paixão com o avô. Bugrino? Nem genro. “Tudo mundo pontepretano, se tiver outro time eu deserdo. Guarani, nem pensar”, brada.
Polis estará o Pacaembu (ou Macacaembu, como a torcida vem chamando) para tentar ver a realização do sonho de uma vida. Talvez até na Argentina. “Se eu puder, vou”.
Depois de 77 anos, viver ou morrer é só um detalhe para esse coração alvinegro ansioso pelo título.