Estamos ainda todos chocados e me parece ser apenas o começo. Ou melhor, parece não ter fim.
Entre a morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, assassinado por pseudo-defensores de “um Brasil melhor”; as palavras afetadas de uma colega sobre o rapaz espancado e amarrado a um poste no Rio – porém, que dão apenas eco ao sentimento da sociedade, oprimida e cansada do descaso do Estado; a invasão, já nem tão invasão assim, do CT do Corinthians e tantos outros exemplos que ocupariam muito mais do seu scroll do que eu conseguiria escrever, fiquei pensando: quem é o inimigo?
Vem aí uma Copa do Mundo e o que deveria ser motivo de alegria, hoje, no mínimo divide a população. Não confiamos no sistema, nos orçamentos, nas prioridades, nos objetivos. Os autores do livro Soccernomics, Simon Kuper e Stefan Szymanski, já diziam em 2010 que o grande legado da Copa é a alegria e o orgulho do povo do País que a sedia. Depois dos manifestos – orquestrados? – na Copa das Confederações, do surgimento dos arruaceiros “Black Blocs”, socialistas de esquina cujo objetivo anárquico já está bem provado, o que podemos esperar para o Mundial? Mais mortes, mais arruaça? Será 2014 o ano certo para reclamar dos acordos de 2007? Perderemos o pouco que resta de bom na alegria de ser sede de uma Copa, com informações distorcidas, dentro de um cenário que tem corrupção em todos os lados – problema mais real do que o orçamento da Copa, menor que o da saúde e o da educação, que nunca chegam 100% aos seus objetivos?
E quando lemos que os “invasores” do CT do Corinthians podem ter sido autorizados a entrar, causando o que causaram, com a benção dos cartolas? Os mesmos que quando cobrados sobre esses vínculos, negam, mas não o renegam. Ou não se sabe que o uso da marca dos clubes, qualquer um deles, é parte grande da renda das Organizadas? Se o clube permite o uso, não combate, é conivente. E o é por que seus cartolas – todos, de todos os clubes – sabem que esses grupos têm força. Elegem, tiram do poder; mantém um status quo arriscado de liderança, pela dor. Ou joga por amor, ou por terror, não é isso?
Vivemos em um Estado em que a imprensa é hostilizada e vive do shownalismo, num ciclo negativo que só puxa ainda mais desconfiança e hostilidade, não interessa a quem. É a lógica Tostines: publica-se o que se quer que leiam ou lê-se apenas o que é conviniente ler? Ainda que tantos, mesmo sem ler, usem a já condenada área dos comentários para dar opinião azeda sobre coisa alguma. O que vale é dizer.
E a polícia, mesmo os de bem, não têm a confiança do povo. Do contrário seria preciso explicar que polícia é sinômimo de bem? Vale pra todos essa lógica? Qual seu critério de separação?
Política? Podre. Ninguém se salva, certo? Mas em Outubro as mesmas figurinhas carimbadas estarão lá, reeleitas, advinhem só por quem?
É intolerância para todos os lados. O humor perdeu para o politicamente correto (nem sempre tão correto), as diferenças não convivem mais, opiniões distintas não servem para reflexão e debate mas sim para confusão e combate.
Quem é o inimigo afinal, que parte de dentro de casa, ao não devolver o troco errado na padaria, ao puxar o sinal de TV a cabo pirata? Quem é que justifica opressão com opressão, que ensina a Lei de Gerson aos pequenos?
Quem pode condenar aos que reagem como podem, sem instrução, cansados de tanto desmando, num País que, definitivamente, deu errado?
O inimigo, amigo, pode estar mais próximo do que nós imaginamos. Pode estar num espelho qualquer, a espera de mudanças, sem que você mesmo se mexa, cobre o que é correto de quem é de direito, mude suas escolhas e suas atitudes.
Vitória e Sport vivem bons momentos dentro de campo: um é o vice-líder da Série A e outro engatou a terceira vitória consecutiva, entrando no G4 da Série B. Objetivos modestos, distantes do que ambos conseguiram recentemente fora de campo: seis títulos mundiais.
Os dois rubro-negros, Leões do Barradão e da Ilha, trouxeram mais alguns para a alcateia, diretamente da França. Cannes é a cidade que recebe o mais famoso festival de publicidade do planeta. É o Oscar da propaganda.
Sport e Vitória, pela ordem, conquistaram prêmios importantíssimos no último festival do segmento. Duas campanhas, mexendo com a emoção do torcedor ao solicitar doações de órgãos e sangue, num ativismo social pouco visto no futebol. Dois belos vídeos, que você pode ver abaixo.
Os pernambucanos trouxeram quatro leões para o Brasil e outros dois rumaram para a Bahia. Bom para a OGLIVY, que criou a campanha do Sport e foi a agência brasileira mais premiada no ano. E também para a Leo Burnett Tailor Made, criadora da campanha do Vitória.
As premiações:
Área: Promo & Activation (avalia o efeito da ação promocional junto ao público – a adesão à ideia, para simplificar)
Imagine o amigo leitor a seguinte situação: Zico é na verdade Zeki, nome turco que significa “astuto, inteligente”. Revelado no Trabzonspor, Zeki chega ao Fla e faz tudo o que fez com a camisa flamenguista. Depois, retorna ao país de origem, para jogar pelo clube de coração, deixando a mesma legião de fãs que até hoje comemoram o “natal” no dia 2 de março. Imaginou?
Pois em termos relativos é o que acontece com Alex no Coritiba. Loucos por futebol, os torcedores do Fenerbahçe – que disputam o posto de maior torcida da Turquia com o Galatasaray – seguem acompanhando (e consumindo) Alex na volta dele ao Brasil, a ponto do Coritiba planejar um modelo de associação a ser lançado no exterior nos próximos 30 dias, para faturar com a paixão turca.
Alex tem estátua e causou comoção na saída de Istambul. Seis vezes campeão nacional pelo Fener e segundo maior artilheiro do clube, deixou “órfãos” no país. Agora, distantes do ídolo, fazem o possível para ficar mais perto. A LigTV, canal esportivo turco, transmitu quatro dos cinco jogos do Coxa no Brasileiro ao vivo; para se ter uma ideia, no Brasil, o clube teve um jogo exibido em TV aberta e outro em TV fechada como exposição “livre” – todos os jogos passam no sistema PPV. Mas esse não é o único, nem o mais importante, sinal de prestígio do Coritiba na Turquia.
A imagem acima mostra Alex recebendo a equipe do programa “Survivor”, da StarTV, em sua casa em Curitiba. O reality show isola sete participantes numa ilha e os coloca nos mais diversos desafios, parecidos com o extinto “No Limite” da TV Globo. Os finalistas tinham como um dos prêmios uma viagem ao Brasil para conhecer pessoalmente Alex.
O fenômeno de mídia turco faz com que o Coritiba ganhe na carona do seu camisa 10. Nas arquibancadas do Estádio Şükrü Saraçoğlu, casa do Fener, já se vêem camisas e faixas com o símbolo do clube brasileiro:
O site oficial do Fenerbahçe há muito já tem tradução para o português, dada a grande procura de coxas, palmeirenses e cruzeirenses pelas notícias de Alex; agora o inverso deve acontecer. O Coritiba ainda não colocou o seu site em turco, mas tem na sua página oficial no Facebook um registro de audiência altíssimo na Turquia, por vezes, maior até que no Brasil, conforme a notícia. E lançará nos próximos trinta dias um plano de sócios voltado ao público turco.
“O sócio turco terá duas modalidades: o Classic, que pagará 9,90 euros/mês, com todos os benefícios de qualquer outro sócio de R$ 9,90, mas com o benefício de ver 4 jogos no ano sem pagar entrada. Se ficar por um ano, recebe ainda um DVD; e o Premium a 19,90 euros. E se permanecer assim por 12 meses ou se pagar a vista recebe os mesmos produtos e mais uma camisa oficial autografada pelo Alex”, explica Paulo Cesar Verardi, diretor de marketing do alviverde, que completa: “Os 100 primeiros vão receber a camisa autografada pelo Alex. E depois estenderemos a outros países.”
Há alguns meses um torcedor turco adquiriu de uma só vez, em visita ao Brasil, 80 camisas do Coritiba. A encomenda continha até o nome do primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Cada camisa custa em média 180 reais. O Coxa até pensou em distribuir o material diretamente na Turquia, mas esbarrou no atendimento de seu fornecedor de material esportivo, a Netshoes, que faz a relação com a Nike. Verardi, que tem um largo histórico no Grêmio e também foi do marketing do rival Atlético, admite que nunca viu nada igual com um jogador no exterior. No entanto, é cauteloso ao falar da expansão do clube fora do País. “Mais importante que isso, é o que ele representa no mercado brasileiro. Antes da Turquia está o mercado brasileiro, a torcida do Coritiba, com poderio financeiro.”
Não é o que pensa Alev Aydin, uma fanática torcedora do Fenerbahçe de 34 anos. Alev tem tudo o que se refere a Alex: camisas, cachecóis e até o quarto todo decorado nas cores do clube, com a foto do ídolo. “Ele é uma lenda”, conta, descrevendo seu sentimento como a “de um irmão que mora longe”. Alev ficou tão triste com a saída de Alex do Fenerbahçe que pediu demissão e passou quatro meses em casa, sem falar muito. E já se sente tão coxa-branca como qualquer polaco nascido na Barreirinha. “Estou animada em ser a primeira a participar”, disse, anunciando que irá conhecer Curitiba em setembro. “Pra mim, o Coritiba já é mais forte, pois pode contar com os milhões de torcedores do Fenerbahçe também.”
Zico era o maior ídolo do futebol brasileiro quando Romário dava seus primeiros passos no futebol. O primeiro é Deus no Flamengo; o segundo, já marcava época no Vasco quando o Galinho rumava para o Japão. A Seleção reservou histórias diferentes para os dois. Zico é aquele que a Copa perdeu – azar dela, dizem. Romário é aquele que ganhou a Copa. E ganharia outra, talvez, não fosse o corte que muitos atribuíram a Zico em 1998. Ali, o ponto de ruptura entre os donos do futebol brasileiro entre 80 e 90.
O corte foi parar na porta do banheiro de um antigo empreendimento de Romário, o Café do Gol. E na justiça. Os ídolos passaram anos rompidos. Até essa sexta-feira.
Romário aceitou um convite feito ainda no ano passado pelo Galinho, para que o Baixinho estivesse no programa de Zico no canal de TV Esporte Interativo. Nada passou batido no papo. Do corte de 1998 à política da CBF e a atuação como deputado; da Seleção de Felipão às polêmicas com Pelé. Zico e Romário falaram, riram e selaram a paz – até mesmo com uma declaração direta do Baixinho ao Rei do Futebol.
A inauguração do Maracanã, que conseguiu a proeza de excluir dois de seus maiores ícones, esteve no papo. Ao chegar na emissora para gravar, o deputado foi recebido com festa pelo apresentador. Nada de tensão: ambos ja haviam se falado muito por telefone. A imprensa, quem diria, sempre criticada pelos jogadores como fazedora de polêmicas, foi peça fundamental. Romário disse que não perdoava Zico pelo corte de 98, até assistir ao programa de Galvão Bueno no SporTV, Bem Amigos, com o Galinho negando a autoria. Foi o que bastou para a reaproximação.
Zico e Romário falaram de política, da CBF e seus futuros diretores, e de Pelé. Como bom meio-campo armador, Zico tentou intermediar um papo – e até uma pelada! – entre o Baixinho e o Rei. A resposta de Romário? Seria sacanagem do blogueiro contar. Melhor esperar o programa, ainda sem data pra ir ao ar.
Belo Horizonte sedia a Mostra de Fotojornalismo Esportivo a partir da próxima quinta-feira, 16 de maio. O evento, intitulado “Futebol em Imagens”, exibirá cerca de 60 fotos, algumas inéditas, capturadas por lentes de 30 profissionais do estado. “A exposição mostra o poder de comunicação da fotografia”, sintetiza Eugênio Sávio, curador do projeto com apoio da Oi Futuro. “Esse conjunto de emoções que envolvem o esporte rende muita imagem. E foi a partir disso que a gente trabalhou”, acrescenta.
Selecionadas sob o ponto de vista estético, as fotografias trazem à tona valores como as vibrações e expressões no esporte. “Com os recursos, a gente consegue fotografar coisas que são quase invisíveis”, destaca. As imagens evidenciam, ainda, o reencontro entre o futebol e o torcedor da capital. “Essa volta do Independência, do Mineirão foi muito importante, muito celebrada pela mídia, pelas pessoas e registrada pelos fotógrafos”, analisa o professor.
Sua ideia é aproveitar o fato de a capital das Alterosas ser uma das seis cidades-sede da Copa das Confederações, em junho. “O futebol está na cabeça de todo mundo, por conta destes eventos que a gente (de Belo Horizonte) vai receber”, comenta Eugênio. “Então, queria pensar como a fotografia poderia contribuir para preencher os espaços turísticos. Surgiu essa ideia”, conta.
Futebol em Imagens
De 16 de maio a 30 de junho – de terça a domingo
Av. Afonso Pena, 4001; Mangabeiras – 11h às 18h
Divertida a ação de marketing dos refrigerantes Pepsi em Buenos Aires, durante uma palestra do novo técnico do Bayern de Munique, o ex-barcelonista Pep Guardiola.
Usando da ironia e do trocadilho com o apelido de Josep, a marca provocou a rivalidade entre os treinadores, que durante três anos rivalizaram-se no duelo eterno entre Barcelona e Real Madrid. Veja um dos anúncios:
Mourinho deve trocar o Real pelo Chelsea ao final da temporada, embora ainda negue os rumores. Já Guardiola terá a responsabilidade de, no mínimo, manter o alto nível apresentado pelo Bayern nas últimas quatro temporadas, quando chegou a três finais de Liga dos Campeões (incluindo 2012/13).
No Brasil, a discussão ainda engatinha. O Atlético já tentou forçá-la duas vezes, de maneiras diferentes e sempre sozinho, o que resultou em insucesso e críticas (o que penso sobre o tema está aqui). Mas, enquanto isso, na Alemanha, já é realidade: as rádios têm de pagar para transmitir jogos. Nessa semana, a DFL (Federação Alemã de Futebol, em tradução livre) confirmou um acordo de cinco temporadas com a Rádio ARD. A notícia, claro, mexeu com o futebol alemão.
A ARD é uma rádio pública com 10 emissoras espalhadas por toda a Alemanha. O grupo também tem emissoras de TV. As rádios operam em sistema digital e também pela internet. A compra dos direitos aconteceu em leilão aberto e deram a ARD três dos quatro pacotes de direitos oferecidos na cobertura das primeira e segunda divisões da Bundesliga, a Supercopa da Alemanha e o playoff do rebaixamento. A ARD será a única rádio a poder transmitir os jogos na íntegra e ainda terá alguns privilégios em entrevistas com os jogadores – não exclusividade. O leilão, no entanto, deixou os mesmos direitos abertos para a Internet nas mãos da Sport1.
Segundo o site da Revista Kicker, “o pacote ‘Audio Broadcast’ inclui os direitos de distribuição nacionais de áudio para FM e o pacote ‘Netcast Audio’ tem os direitos de distribuição de áudio para web e móvel. Ambos os pacotes dão direito a relatar todos os jogos.” As emissoras, no entanto, não tem direito exclusivo à cobertura jornalística, permitindo-se que os concorrentes façam coberturas curtas de áudio, incluindo entrevistas, tais qual o boletim do jogo em curso – como está, em que tempo, etc., no formato notícia ou, em interpretação livre, como os plantões do rádio brasileiro.
Os valores não foram divulgados. O contrato se inicia na temporada 2013/14 e vai até a de 2016/17. Na imprensa europeia, especula-se um valor de 7 milhões de Euros por temporada. Aqui, mais um detalhe: na Alemanha, as cotas são divididas entre os clubes com base no desempenho esportivo da temporada anterior.
Jornalismo x Entretenimento
O modelo alemão tenta conciliar a difusão do espetáculo (entretenimento) sem desrespeitar o acesso à informação (jornalismo). Dá privilégios ao comprador dos direitos em entrevistas exclusivas, mas não proíbe as emissoras que façam as mesmas nem que compareçam às coletivas de imprensa. O que, aliás, é mais divulgação para o torneio. Principalmente: parte da confederação, que responde por todos os clubes. Para coroar, ainda há a divisão de cotas com critério desportivo. Um avanço.
No Brasil a TV Bandeirantes, com Luciano do Valle à frente, foi a primeira a, adquirir direitos exclusivos da transmissão do Campeonato Paulista, no começo dos anos 80, dando início ao negócio que conhecemos hoje. Record, SBT, CNT e principalmente a Rede Globo já transmitiram futebol ao vivo em algum momento. A Globo é a atual detentora dos direitos do Brasileirão, Libertadores, Copa do Brasil e de muitos Estaduais em TV aberta. No rádio, o único modelo de exclusividade conhecido é com as Copas do Mundo. Rádios do Brasil já se acostumaram a pagar à Fifa para poder transmitir as partidas. Quem não tem os direitos, não pode sequer fazer o off-tube.
No Paraná, o Atlético tentou, individualmente, vender os direitos de transmissão dos seus jogos em 2008. Não conseguiu, tendo a ideia barrada pela justiça. É um raciocínio lógico: ainda que uma rádio compre os direitos do clube, o jogo conta com duas equipes. Logo, a outra também precisa vender os direitos. Em 2013, o clube partiu para outra tentativa: proibiu seus funcionários de darem entrevistas para rádios, sites e TVs que não sejam do clube. Inicialmente apenas na internet, a Rádio CAP fez uma parceria com a 95.7 FM de Curitiba, que é a única para quem os jogadores tem orientação de falar. O modelo da parceria não foi explicado publicamente. A rádio não transmite outros jogos, se anuncia como “Rádio CAP 957” e não tem veiculado anúncios – que são a base de sustentação de toda emissora. Estima-se que uma equipe esportiva enxuta e que faça viagens para acompanhar os clubes necessite de uma renda mínima de R$ 30 mil por mês, entre despesas e salários.
O conflito se dá não pelo formato ou pela compra de direitos e sim pelo comportamento de quem cobre o futebol. Será preciso acompanhar na Alemanha como o jornalismo atuará a partir da novidade. No Brasil, costuma-se confundir o direito à informação com publicidade e também há um constrangimento em se tecer críticas e informações inerentes ao jogo e ao meio pelo simples fato de se ter direitos ou parcerias estabelecidas. A relação perigosa pode ser evitado de uma maneira simples: exercitando-se o caráter. Mas isso não se ensina em curso nenhum.
Essa é uma informação exclusiva: a Coca-Cola se reuniu há 10 dias com a diretoria do Atlético para cobrar do clube o porquê da pouca exposição da marca na mídia. Na reunião, esteve presente o diretor de comunicações, Mauro Holzmann.
A Coca-Cola cobrou a ausência da exposição dos banners com os patrocinadores e usou até mesmo o Coritiba como exemplo, citando ainda que, com imagens de treino disponíveis para toda a mídia no Alviverde, há retorno do investimento em propaganda até mesmo quando os atletas do Coxa estão consumindo o isotônico da empresa, o que aparece na televisão. Holzmann prometeu algumas contra-partidas – as placas atrás dos gols nos jogos do Atlético no Paranaense, por exemplo. Ainda assim, a direção de marketing da multinacional não ficou contente com as explicações e poderá rever o contrato. A assessoria de imprensa da Coca-Cola confirmou que procurou o clube.
Esse é apenas um dos exemplos das perdas que o Atlético vêm tendo a partir das restrições que tem imposto à mídia em 2013. O modelo de comunicação adotado pelo clube é inédito no Mundo e vai na contramão de tudo o que prega qualquer boa cartilha em gestão e comunicação. Antes de continuar o artigo, faço o aviso: sou formado em jornalismo e também em publicidade, tendo trabalhado por anos na área, antes de migrar para redações. Também sou pós-graduado em gestão esportiva e jornalismo esportivo. O artigo aqui, portanto, não é um achismo; é um apanhado de informações e reflexões sobre as decisões do clube que, pelo volume de torcedores que possui, tem relevância no mercado nacional.
É preciso se entender as razões da decisão da diretoria do Atlético. E também separar algo que já é bem caracterizado no mercado: o que é jornalismo e o que é entretenimento. A opção de não vender os direitos de transmissão para o campeonato estadual é um direito do clube, que argumentou que o valor está abaixo daquilo que entende ser correto. A exibição dos jogos é tratada, até mesmo pela principal emissora do País, como entretenimento. É como quando você quer comprar um carro: ele tem um preço, você tem um valor no bolso; se for compatível, ok. De outra forma, não sai negócio. Sabe-se, porém, que há mais por trás da decisão do que só uma valorização de mercado.
Há anos que a atual diretoria do clube têm problemas com parte da imprensa. E aqui cabe outra ressalva: não há corporativismo na análise – até porque posso garantir que poucas classes são mais desunidas e acirradas que a de jornalista – mas há que se pesar que ora um tem razão na reclamação, ora outro. Há quem diga que tudo que começou em 2004, em uma discussão entre diretores do clube e comentaristas em uma das principais rádios de Curitiba. Há também quem ache que essa mesma rixa vem de mais tempo, 1988, com o cenário político na capital, envolvendo o personagem de mais destaque no clube, Mário Celso Petraglia. Fato é que, por muitas razões, o mercado do jornalismo esportivo é mal visto na cidade, independentemente do time para o qual você torça. E que muitas vezes misturam-se as relações pessoais com as profissionais. Acontece nos microfones e também no site oficial do clube, exemplos não faltam.
O site oficial, aliás, tem uma boa ideia sobre como se comunicar. Só que mal executada. A segmentação de informações do clube não é invenção do Atlético. Há anos já existe a Barça TV, assim como a Real Madrid TV. Existem até mesmo canais de TV que pagam para ter a programação oficial dos clubes. Milan Channel e MUTV (do Manchester United) cobram para canais exibirem seus conteúdos. No Brasil, clubes têm até espaços em canais, como a TV Corinthians no Esporte Interativo – mas a inversão é que o clube compra o espaço para divulgar seu material institucional. Rádios também são opção para o torcedor. O Grêmio tem a sua, que acompanha todos os jogos. Ainda em Porto Alegre, existe uma rádio não-oficial chamada Rádio Grenal, do grupo Guaíba, que fala tão somente da dupla, com jogos transmitidos por torcedores – uma relação que eu considero perigosa e explicarei porque a seguir. Mas, enfim, existem produtos similares no mercado. Nenhum porém que vete o jornalismo em cima do clube.
O jogo é entretenimento; a entrevista, não. Um clube de futebol trabalha não só a emoção do torcedor nos 90 minutos. Tem balanço financeiro e alguns benefícios fiscais. Vende e compra ativos no mercado (os jogadores). Tem departamento médico e de marketing. Movimenta muito dinheiro. Especialmente os grandes clubes, que, por tudo isso são de interesse público. Aí entra a imprensa, que tem como principal trabalho monitorar tudo isso. Um ótimo repórter, no entanto, dribla 90% das restrições do clube. Descobre contratações (olá, redes sociais), negociatas, informações sobre patrocínios e lesões. Falta apenas uma ponta, não menos importante: ouvir o protagonista do espetáculo. É ele quem leva o torcedor pro estádio. Neymar e seus milhares de fãs não me desmentem. E é ele que o povo quer ouvir. No Atlético, não há essa possibilidade.
Cristiano Ronaldo é um craque de bola e de mídia. Ao contrário de Messi, não é low-profile; gosta de badalação e já apareceu até com Paris Hilton nos jornais. Explora bem isso, convertendo em dinheiro, sem deixar de desempenhar em campo. Sem a mídia, Cristiano Ronaldo seria apenas um ótimo jogador, não um ídolo pop. Coisa que Messi é em menor grau, mas não porque o Barcelona o esconde. Messi concede entrevistas coletivas como qualquer outro jogador. A Espanha é o melhor exemplo para esse artigo que fala do relacionamento entre clube e imprensa. Para quem acha que há perseguição ao seu clube, é bom passar uma semana lendo os diários de Madri e Barcelona.
O Mundo Deportivo é o principal jornal de Barcelona; o Marca, o principal de Madri. Há uma clara preferência de cada um pelos clubes das suas cidades, sem pudor. Ambos, no entanto, se pretendem nacionais. E frequentam as entrevistas coletivas dos clubes. As perguntas mais ácidas, mais provocativas, costumam partir destes jornais. Mas somente para os clubes da outra cidade. O bairrismo catalão é a mola propulsora desta disputa, que passou até pela Guerra Civil Espanhola. É histórica a disputa entre Barça e Real, Catalunha e Madri. E nem por isso os clubes barram os jornalistas. Ao contrário: recebem bem, exploram o espaço de mídia valorizando suas marcas e dão media-training aos jogadores que, claro, já estão bem escolados.
No Mundo Deportivo, as notícias sobre o Real Madrid são sempre mais críticas
Jornalismo pressupõe contradição, investigação, réplica e tréplica. E o mínimo de isenção possível ao se lidar com o assunto. Nenhum jornalista é completamente isento: todos temos histórico de criação, bagagem cultural, opções políticas e clubísticas. Mas, ao se empunhar um microfone, isso deve ser deixado de lado o máximo possível. Eu, por exemplo, tenho meu clube do coração. Acho irrelevante declarar – não irá mudar em nada qualquer decisão de ninguém – e procuro isentar-me dos temas da seguinte forma: se eu torço para um determinado time, sei o que o torcedor do rival sente pelo dele. Logo, dou o respeito que gostaria de receber. Com o tempo e o desgaste, o futebol perde a magia e o lado profissional fica em primeiro lugar. E é por isso que jamais uma visão mono e institucional sobre qualquer tema será benéfica. O contraditório é importante para que você desenvolva o seu próprio julgamento.
Assim, por mais que o site oficial de qualquer clube se esforce, jamais será uma fonte 100% confiável; ela é partidarista. Tal qual os programas esportivos com torcedores – já tive oportunidade de comandar duas atrações assim – que perderam-se no tempo por misturar informação com entretenimento. São divertidíssimos quando ficam nas rixas e gozações, mas se perdem quando precisam adotar uma postura informativa. Cada um defende o seu, sempre. E a informação é dada pelo emocional: se fulano jogou mal, não presta, se fez gol, é Pelé. O pronunciamento dado por Mário Celso Petraglia, com interatividade de sócios, seguiu essa linha, bem como as entrevistas feitas pelo site do clube, que pretende servir como fonte única de informação. Falta réplica, contraditório. O que as entrevistas coletivas já vinham minando há algum tempo, o Atlético tratou de exterminar. Com a visão mono, perde-se o lado crítico e a consequência é a letargia: tudo é bom, bonito e tudo serve. Ou foi fatalidade. O popular “Deus quis assim”.
O Santos, com a SantosTV, explora ao máximo as brincadeirinhas com Neymar. Em São Paulo, o Santos não consegue muita audiência. Tem um grande ídolo e aproveita isso, sem barrar qualquer entrevista com qualquer jogador. Atendendo as necessidades, o Peixe expõe sua marca constantemente na mídia nacional. As notícias, a cargo da imprensa. Os bastidores, o Santos oferece e a mídia exibe. Se Neymar ficar noivo e feliz, isso vai ser notícia sem que se cobre dele o desempenho em campo pelo viés crítico.
A confusão entre jornalismo e entretenimento faz com que o clube execute errado uma ideia que seria salutar a todo o mercado – e causa arrepios a alguns colegas: a venda dos direitos de transmissão de rádio. A Fifa já faz isso com a Copa. A lei garante o jornalismo e registro de 3% do espetáculo (vale também pra shows, por exemplo), mas os 90 minutos, só para quem pagar. Foi assim que a TV Bandeirantes começou a transmitir o Campeonato Paulista nos anos 80, dando o pontapé num negócio de alta rentabilidade, para clubes e emissoras. É natural que haja o mesmo no rádio. Porém, nenhum clube conseguirá executar nada sozinho. Se eu compro os direitos de transmissão do Londrina, mas não compro os do Coritiba, como irei transmitir um jogo entre as duas equipes? Antes de executar a ideia, é preciso que todos a abracem. Novamente, o pecado está na execução.
No pronunciamento dado por Petraglia, uma frase chamou a atenção: “Hoje, todos têm smartphones”. Era o presidente do clube defendendo o acesso único a informações pelo site, TV e rádio oficiais. Deixando de lado a liberdade jornalística, a frase morre logo na premissa. É como a rainha francesa Maria Antonieta e a frase atribuída a ela: ” “Se o povo não tem pão, que coma brioches!” A fome do povo vinha da falta de dinheiro, não de opção. O humilde carrinheiro que já anda afastado dos estádios por conta dos ingressos, não tem smartphone. E não terá mais acesso a sua paixão – claro, se for atleticano. Para desgosto rubro-negro, o Coritiba segue a contramão: nos últimos 15 dias, foi exibido 4 vezes em redes nacional e estadual.
A média de audiência do mais consagrado programa de esportes em Curitiba é de 14 pontos no Ibope. Cada ponto equivale a 27 mil televisores ligados que, em média, são assistidos por 6 pessoas. Numa conta rasteira, 150 mil pessoas por dia. O pronunciamento de Petraglia foi, até a redação deste artigo, “curtido” por 125 pessoas, com 78 “tuitadas”, dando a dimensão limitada do acesso do conteúdo na web. O Atlético hoje tem 93 mil seguidores no Facebook e 34 mil no Twitter, enquanto a torcida estimada do clube é de 1,2 milhão de pessoas. Ainda que seja um pronunciamento, as ideias de Petraglia chegaram a pouca gente. Até mesmo as boas, como a pré-temporada na Europa, acabam se perdendo pela falta de explicações. Menos mal para o público que houve um acerto com um canal de TV a cabo nacional para a exibição dos jogos.
Audiência TVCAP: ideias de Petraglia chegam a poucas pessoas
O conflito de interesses entre imprensa e clubes vai sempre existir. Ora ético, ora não, de ambos os lados. É assim na política, na polícia e em todas as áreas do relacionamento humano. Como o futebol é feito de vitórias e alguns torcedores têm a moral distorcida por isso (ganhou tá lindo, perdeu não presta), é uma variável a repercussão dos assuntos. Saber lidar com isso, usando de transparência e inteligencia, é o melhor caminho.
O amistoso do Coritiba contra o Colón, da Argentina, no próximo sábado, será exibido para todo o Brasil. Será a reestreia de Alex com a camisa alviverde. O Coxa tratou de negociar a transmissão com um dos principais canais de TV a cabo do Brasil, em meio a terceira rodada do Paranaense. No domingo, dia seguinte, o Coxa novamente estará na telinha, enfrentando o Cianorte, desta vez com exibição apenas para o Paraná. A mídia nacional tem total interesse em saber de Alex pelas passagens no Palmeiras (campeão da Libertadores 1999) e Cruzeiro (no inesquecível 2003 celeste). Cruzeirenses, que sempre foram simpáticos ao Atlético no Paraná, podem até “virar a casaca”, dada a importância de Alex. E o Coxa ainda não explora tudo o que cerca o ídolo. Durante a semana que passou, um turco, de nome Murat Kapki, comprou nada menos do que 80 camisas oficiais do Coritiba, com o 10 de Alex, para levar para o seu país. Alex é rei no Fenerbahçe, uma espécie de Corinthians da Turquia, que vende em média 10 mil camisas por semana, segundo reportagens da imprensa local. Murat desembolsou cerca de 15 mil reais a vista para presentear amigos, entre eles o primeiro ministro turco, Recep Erdogan. Ainda contou ao advogado coxa-branca Percy Goralewsky que há um reality show na TV turca que premia o vencedor com um milhão de euros e uma visita à Curitiba, para conhecer Alex. São mercados que o Coritiba ainda não resolveu explorar, oficializando, por exemplo, uma loja em Istambul. Mas tem se aproveitado da exposição da marca para todo o Brasil, desde a confirmação da chegada de Alex.
Caminhos diferentes
Se ainda não rentabiliza o máximo que pode com Alex, o Coxa opta por aproveitar ao máximo todos os espaços que lhe são oferecidos na mídia, na estratégia de comunicação do clube. O Atlético, ao contrário, restringe. Existem razões para tal, mais do que somente uma represália à imprensa paranaense. Ainda assim, o caminho mostra alguns equívocos. Primeiro, pontuemos: é nocivo aos atletas e à torcida a restrição de entrevistas imposta pelo clube, mas não é ilegal. Trata-se de uma orientação de patrão para funcionário, prerrogativa do clube. Mas, ao contrário do fenômeno Alex, como criar um ídolo em ambiente enclausurado? Como o torcedor, insatisfeito com o desempenho em campo – pra ficar só no empate com o Rio Branco – pode questionar seus atletas, através da imprensa, se estes só falam ao veículo oficial? É como saber do Governo pela Voz do Brasil. Manter a porta com a mídia tradicional é importante. Além de tudo, é um desperdício de espaço midiático, o que poderá desagradar ou afastar patrocinadores. No entanto, há uma estratégia: o contrato com a AEG, que irá gerir a Arena, prevê a comercialização de conteúdo de mídia. Age bem o clube ao criar seus espaços próprios, como TV e Rádio – só que o faz por caminhos tortos. Real Madrid e Barcelona já os têm e são rentáveis e de qualidade. Aqui, o erro: na Espanha, são fomentadores da mídia. Dão material exclusivo, inédito. Abrem as portas, com disciplina, para qualquer questionamento da imprensa. E são os maiores clubes do Mundo. Já pensou o que seria de Cristiano Ronaldo se ele nunca pudesse dar entrevistas?
O Coritiba pode receber nessa quinta um prêmio internacional pela campanha de marketing “O mais vitorioso do Mundo” (clique para conhecer a campanha), que valorizou o feito das 24 vitórias consecutivas em 2011, recorde mundial registrado no Guiness Book of Records e deu o pontapé para uma campanha de associação ao clube, que chegou a ter 30 mil sócios no auge.
O Football Business Awards, promovido pela primeira vez neste ano pelo Chelsea, reconheceu o Coxa como um dos clubes com mais sucesso em estratégia envolvendo venda de entradas e mídia externa no Mundo, categorizando o clube brasileiro na série “Overseas” (além-mar), concorrendo com os não-ingleses Zenit (Rússia), Club Brugge (Bélgica), Internazionale (Itália) e Colorado Rapids (EUA).
O blog foi atrás dos concorrentes do Coxa e apresenta duas das campanhas abaixo.
Colorado Rapids – #OneClub
Os Rapids, dos EUA, lançaram uma campanha em que os compradores dos season tickets ganhavam o direito de colocar o nome na camisa do clube.
“É uma única e especial oportunidade de ter nossos leais torcedores no gramado com nossos jogadores por toda a temporada”, explicou no lançamento da campanha o presidente dos Rapids, Tim Hinchey.
A camisa do Colorado Rapids, com os nomes dos torcedores
Zenit St. Petersburg – Ação no metrô e nas ruas
O Zenit, que hoje conta com o brasileiro Hulk, lançou uma campanha com posteres nas ruas e nas estações de metro de São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia.
A campanha convocava os torcedores a se juntar a força do Zenit nos jogos do clube. Veja um dos posteres e o vídeo (em russo), clicando na imagem:
Zenit pediu apoio aos torcedores valorizando a força conjunta à torcida
Inter de Milão e Club Brugge não disponibilizaram em seus websites a campanha com a qual concorrem.
O resultado será conhecido na noite desta quinta-feira, em Londres.