Muitos assuntos espinhosos nos últimos dias, em especial a disputa jurídica entre FPF e Coritiba pela cessão do Couto ao Atlético. Achei mais fácil usar o sistema FAQ (Frequently Asked Questions, ou, no portuga, Perguntas Frequentes) para tentar esclarecer os pontos dessa e de outras questões. Para tanto, falei com a maioria dos personagens envolvidos na história e reuni reportagens anteriores. Quando exigido, dei minha opinião – que nunca teve a pretensão de se tornar verdade absoluta. Espero colaborar com o tema e manter esse canal aberto. Vamos lá?
Com a indicação do Janguito Malucelli, a ação da FPF perde objeto, ou seja, deixa de ter razão de ser?
Não. Mas o Coritiba pode tentar fazer com que o STJD entenda que sim. A verdade é que a indicação do Eco-Estádio (JM daqui pra frente) é um paliativo: o Atlético não tem pra onde correr e acertou com o Corinthians-PR para jogar lá até que ache uma solução que abrigue seus 17 mil sócios. Cabe ao Coritiba anexar ao processo o acordo entre FPF, Corinthians local e Atlético e o STJD pode entender que o caso está resolvido. No entanto, é difícil que isso aconteça sem a anuência das partes – no caso, sem que a FPF retire a ação. A ação pode perder objeto em outro caso também: se o julgamento ficar marcado após o fim do estadual.
Porque a FPF comprou a briga do Atlético e está forçando o Coritiba a emprestar o estádio?
Hélio Cury responde: “Faríamos o mesmo por qualquer filiado que precisasse da FPF. O Atlético indicou e a Federação entende que o Estatuto deve ser cumprido.” Na verdade, além as palavras do presidente, o próprio ofício da FPF ao Coxa já responde a questão: o Atlético está cedendo o estádio à Fifa para a Copa 2014. A FPF, subordinada a CBF, está defendendo os interesses do Mundial. A ação é legal? É, está dentro da justiça. É moral? Talvez. Moral cada um tem a sua. Fato é que o Atlético não tem onde jogar e isso não é problema do Coritiba, mas os clubes poderiam (incluindo o Paraná) ter pensado nisso muito antes.
Teorias envolvendo política? Não comento.
Domingos Moro vai defender o Atlético contra o Coritiba?
Pra quem não sabe, o advogado Domingos Moro é conselheiro vitalício do Coxa e advogado permanente do Furacão. Nunca precisou defender o cliente contra o clube do coração, mas terá de decidir se o fará caso o Atlético resolva entrar como terceiro interessado no recurso da FPF. “Não vou falar sobre hipóteses, entendo a necessidade ética do caso e na hora certa, decidirei entre a paixão e a razão”, me disse Moro, sem antecipar posição.
O que você faria?
Qual sua posição sobre o tema Empréstimo do Couto?
Acredito, e não é de hoje, que um bom acordo entre Atlético e Coritiba poderia ter evitado todo esse desgaste. O Atlético requer o Couto pelo número de sócios que têm; o Coritiba poderia ter lucrado com o negócio. Não aconteceu e a coisa ficou insustentável quando passou a ser uma imposição. Foi uma prova de como somos tacanhos: precisava ir à justiça? Desde então virou questão de honra. E vocês sabem melhor que eu: futebol é paixão.
Ninguém mais escapa ileso moralmente: alguém perderá. Porém discordo de todos que temem uma praça de guerra: isso é futebol, gente. Se o Atlético jogar no Couto por imposição da CBF, Fifa, FPF ou do Papa, o Coritiba tem que ir buscar o que deve na justiça e acatar a lei; se não, o Atlético tem que arrumar um lugar que comporte seus sócios, aqui ou no Uruguai, e ressarcir aqueles que forem relegados no valor das mensalidades. E ponto. Nada de sair no cacete na rua. Até porque normalmente é você, torcedor, que volta pra casa de olho roxo ou acaba na cadeia. Ou no cemitério.
E o Paraná? A indicação é pelo Couto, logo, não está em questão.
E o rodízio de sócios no Janguito?
A informação é extra-oficial e está em estudo no Atlético. É simples: o clube analisa se distribuirá senhas e quem chegar primeiro, leva.
A Arena está sendo construída com dinheiro público?
Não. Pelo menos até aqui, uma vez que uma questão importantíssima ainda não foi esclarecida: como serão feitas as desapropriações no entorno do estádio? Só o governo pode desapropriar algo e esse sistema nunca foi colocado a público.
Mas o potencial construtivo, benefício concedido até agora, não é dinheiro público. Pelo contrário, acredite, a prefeitura sai no lucro. Quem explica é o ex-vice-presidente do Sinduscon-PR, Sérgio Buerger: “A concessão dá a prefeitura uma moeda. Ninguém perde nada com isso. Encontra-se uma maneira de financiar o negócio com o interesse do mercado privado.” Aqui, uma matéria de 2010 explicando esse papel do governo cedido ao Atlético.
Então, não há dinheiro público legalmente, mas e os direitos de Coritiba e Paraná nessa?
Segundo Luiz de Carvalho, secretário da prefeitura na Copa, como o Atlético recebeu autorização para transformar papéis de potencial construtivo no valor de R$ 80 milhões, foi pedido um prazo de carência para a emissão de novos títulos. No entanto a lei municipal beneficia os dois clubes, que podem requerer o uso quando entenderem e após a tal carência – certamente após a venda dos atuais títulos.
E o BNDES vai aceitar isso como garantia?
Tudo indica que não. Não há uma resposta sobre o tema: Mário Celso Petraglia ainda não concedeu entrevistas, não escreveu nada no Twitter ou Facebook e tampouco colocou algo no site oficial. Mas o colunista Augusto Mafuz, advogado notadamente ligado às coisas atleticanas, disse hoje em sua coluna que Petraglia pode colocar o CT do Caju como hipoteca. Sim, eles são desafetos e há que se ter cuidado com essa informação. Mas enquanto ninguém se manifesta oficialmente, é o que tem de resposta.
E você quer dizer que o Atlético não vai ser beneficiado?
Jamais! O clube é um dos grandes beneficiados, lógico. Qual seria chance de se construir um estádio Fifa sem a Copa? Não dá pra tapar o sol com a peneira e quem nega isso é muito cara de pau.
Porque o Paraná, que precisa de dinheiro, não aceitou a proposta do Atlético?
Isso foi respondido na nota oficial do clube: o valor ficou abaixo daquilo que o Tricolor entende como preço de mercado. Nessa questão, ao menos teve diálogo e negócio. Aceitar e acertar são outras coisas.
Cara, eu não engulo essa coisa da Copa ser de Curitiba!
Paciência. Pra mim, é. Pra Fifa, também: são prefeitura e Estado que tem assinatura para sediar o evento. O Atlético é um parceiro, como o Inter no RS.
Fato é que Curitiba nunca se vendeu como cidade-sede: não há marketing, não há interesse a não ser na hora das fotos. Roberto Requião, Beto Richa e Luciano Ducci nunca deram muita trela pro evento. Orlando Pessuti foi quem mais se empenhou. E usar a camisa do Atlético em algumas ocasiões não colaborou muito para que coxas e paranistas tivessem mais simpatia pela Copa. Assim como existe a disputa natural pelo estádio privado ficar com a sede.
Mas isso não diminui a importância do Mundial para a cidade, desde a vinda do PAC até o legado que (esperamos) ficará. É lucro para o comerciante, o hoteleiro, o empresário, o taxista, pra quem estiver pronto para o evento, seja da cor que for. Ah!, sim, seria interessante que o Estado já tivesse começado algumas ações nesse sentido. Mas…
Qual seu time do coração?
Essa pergunta foi feita inúmeras vezes, passou pelo pessoal do TJD-PR essa semana, e volta a tona quase que diariamente para quem trabalha em jornalismo esportivo.
É claro que eu tenho um time. Quem não tem e trabalha com jornalismo esportivo está no ramo errado. Só que não acho essa informação relevante. Ela não decidirá nenhum dos temas acima, não fará gols e nem mudará resultados. É a informação mais básica de futebol que eu tenho – o time que eu torço – mas isso é particular.
Meu time do microfone/computador/câmera para frente é a ética e o profissionalismo. Amo o que faço e faço com dedicação e seriedade extrema. Tem gente que mede as pessoas com a própria régua e julga: “fulano escreve isso porque torce pro time tal.” Certamente, fulano vai mal das pernas no trabalho. Temos que amadurecer alguns conceitos e respeitar o trabalho dos outros. Sim, eu mexo com a paixão de vocês e nem sempre com notícias boas, mas tá no preço. Alguém tem que fazer. Acredite, é trabalho, não é lazer. Pergunte à minha esposa.
Todo jornalista tem um time, um partido político, uma ideologia. Somos humanos, oras! Ok, eu sei que alguns não parecem. Mas eu particularmente gosto muito dessa interatividade com vocês. E humanos erram. Só que há uma distância muito grande entre errar e ser corrompido. E eu não admito qualquer tipo de insinuação quanto a minha conduta ética e profissional: rede social não é boteco e pode ser documentada. Então, se acusar, tem que provar. Combinado?
Dito isso, volto ao tema: não importa. Importa é que você seja bem informado, com isenção e precisão – não confundir com pressa – e também possa manifestar sua opinião. É pra isso que criei o blog, com o incentivo do Léo Mendes Júnior, meu goleiro nos tempos de pelada. Aliás, aquele sim era o meu time.
Agradecimento especial aos vários leitores do Twitter e também aos que comentam aqui no blog, que enviaram as perguntas acima. Ia citar os nomes junto a cada questão, mas era muita gente e alguns eu só conheço por @algumacoisa, o que certamente não está no RG.