Qual o segredo do futebol de Minas?

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Uma Libertadores, um Brasileirão (em breve talvez dois) e uma final de Copa do Brasil no período de dois anos e o Brasil inteiro se pergunta: qual o segredo do futebol mineiro, atual dono dos melhores resultados no País?

Atlético-MG e Cruzeiro não são exatamente modelos de sucesso administrativo. De acordo com o balanço de 2013, último publicado, ambos somam 638 milhões em dívidas – 438 do Galo com 200 da Raposa. O Alvinegro é o quarto time mais endividado do País, enquanto que os Celestes ocupam a 11a colocação no ranking negativo. A dívida cruzeirense é facilmente administrável quando olhamos as receitas de 2013, quando o clube arrecadou 188 milhões, entre patrocínios, prêmios, vendas de jogadores, televisão e bilheteria, entre outros. Já os atleticanos de Minas Gerais não têm a mesma tranquilidade que o rival. As receitas em 2013 foram de 228 milhões, praticamente metade do que foi gasto. Ainda assim, com uma desproporção entre receitas e despesas, com patrocínios menores que os de Rio e São Paulo, como os mineiros dominam pelo segundo ano seguido o futebol nacional?

A resposta é: investimento no futebol em si.

Se a gestão administrativa deixa a desejar no balanço financeiro, Cruzeiro e Atlético-MG seguem o rumo daquilo que se propõem desde que foram criados. Ao invés de superávit, títulos. Uma receita adotada pelo primeiro Real Madrid Galático de Florentino Perez, com Zidane, Ronaldo e Beckham, em menor proporção. Então decadente, o Madrid optou por gastar mais e fazer a roda girar em outro sentido. Com craques e títulos, aumentou sua arrecadação e voltou a ser referência no cenário mundial. Não sem antes vender um patrimônio gigante, a antiga Ciudad Deportiva, o CT que rendeu 480 milhões de Euros à equipe espanhola.

Em Minas não é muito diferente quanto ao patrimônio. Cruzeiro e Atlético-MG não precisaram gastar um centavo sequer para modernizar os dois principais estádios de Belo Horizonte. O Mineirão e o Independência ganharam cara nova com parcerias público-privadas, como a Minas Arena. Diferente de adversários como Corinthians, Inter e Atlético Paranaense, os mineiros não têm dívidas recentes com infraestrutura. Enquanto o trio citado tem que dividir suas receitas com as obras, Galo e Raposa tiveram que buscar apenas melhores acordos com os arrendatários das arenas – o América Mineiro é o gestor do Independência, que pertence à Prefeitura de BH. Antes, porém, a dupla mineira já havia construído seus CTs, Cidade do Galo e Toca da Raposa, ambos considerados dois dos 4 mais bem estruturados do País. O Cruzeiro se dá ao luxo de ter um CT apenas para a base, a Toca I, com os profissionais treinando na moderna Toca II.

O salto foi dado após o susto que a dupla sofreu em 2011. Atlético-MG e Cruzeiro acabaram nas 15a e 16a posições respectivamente, as duas logo acima da zona de rebaixamento. O jogo que livrou a Raposa do rebaixamento foi justamente o clássico mineiro, previsto então para a última rodada. Com uma acachapante goleada dor 6 a 1, o Cruzeiro se livrou da queda junto com o Galo, que havia escapado um pouco antes. A partida, porém, foi colocada sob suspeita por muita gente em Minas Gerais, chegando até a ser formulada uma denúncia no Ministério Público Mineiro, arquivada posteriormente. Ambos tinham o mesmo fundo gestor, o Banco BMG, contando com 12 jogadores nas duas equipes. A recuperação atleticana, que ocorreu antes, foi caracterizada por uma defesa intransponível no segundo turno, que acabou sofrendo a maior goleada do campeonato naquele jogo. Após o final do ano o BMG se retirou do mercado de investimento direto no futebol e a CBF acabou com os clássicos na última rodada do Brasileirão.

Longe da Série B, Galo e Raposa investiram pesado nos elencos. O Atlético-MG saltou de R$ 30 para R$ 180 milhões de investimento em futebol de 2012 para 2013. A vinda de Ronaldinho foi o principal deles. O craque ex-Barcelona deixou o Flamengo em baixa e rendeu para o clube a histórica Libertadores de 2013, após o vice-campeonato brasileiro em 2012. A imprudência foi recompensada pela taça e pelo pequeno aumento da dívida, de apenas 6% entre as temporadas. Alexandre Kalil, presidente do Galo, é um dos principais artífices dos clubes em prol de um programa de refinanciamento – talvez anistia – das dívidas dos clubes junto ao governo. O clube sofreu para receber os R$ 37 milhões da venda de Bernard para o Shahktar Donetsk da Ucrãnia. Só o fez quando deixou R$ 25 milhões nos cofres da União e diminuiu a dívida. O elenco do Galo perdeu Ronaldinho, mas manteve ídolos como o goleiro Victor e o atacante Diego Tardelli.

O Cruzeiro começou a recuperação mais timidamente que o rival, mas para 2014, após o título do Brasileirão, abriu de vez os cofres. A montagem do elenco que pode ser coroado com o bicampeonato brasileiro e a Copa do Brasil começou com 70 milhões em 2012 para 160 milhões nesta temporada, chegando a mais de 80% das receitas do clube. Os Celestes foram buscar gente como o zagueiro Manoel e os meias Marlone e Marquinhos, revelações de Atlético-PR, Vasco e Vitória. Se dão ao luxo de manter Julio Baptista e Dagoberto no banco, jogadores que seriam titulares na maioria dos demais clubes da Série A. E, principalmente, acreditaram no trabalho do técnico Marcelo Oliveira, já há duas temporadas completas à frente da Raposa.

O BMG segue estampando as camisas da dupla, mas os R$ 12 milhões por ano pagos a cada um são menos que a metade dos R$ 31 milhões que o Corinthians recebe da Caixa e menos ainda que os R$ 60 milhões investidos pela Unimed na parceria com o Fluminense. Mesmo com a receita inferior, mas dedicando quase todo o fluxo ao futebol e contando com escolhas acertadas e um pouco de sorte – afinal o futebol é um jogo e São Victor está aí para confirmar aos atleticanos a tese – Galo e Cruzeiro vão dominando o cenário nacional na contramão da austeridade financeira pregada pelos especialistas. Se o poço tem fundo ainda não se sabe, mas o torcedor e o museu dos clubes não estão reclamando da constante chegada de taças à Belo Horizonte.

Minas Gerais contra a Alemanha

Mais que uma convocação geral para o jogo desta terça-feira, quando a Seleção Brasileira vai precisar e muito da força das arquibancadas, o torcedor mineiro irá ver em campo um de seus maiores algozes: o futebol alemão.

Pode ser algum laço espiritual, um resquício inexplicado do Pangeia ou apenas o que é mais óbvio, uma grande coincidência. Mas os principais momentos do futebol mineiro foram contra alemães. E mesmo quando o encontro não ocorreu, foi a Alemanha quem comemorou.

Essa história começa em 1976. A Alemanha havia sido campeã do Mundo em 74 e o Bayern de Munique era a equipe mais vitoriosa da Europa. Tricampeão da Champions League, o Bayern iria encarar o Cruzeiro na decisão intercontinetal. 

Cruzeiro x Bayern: alemães no caminho dos mineiros

O time de Raul Plassmann, Nelinho, Piazza, Jairzinho e Palhinha venceu a Copa Libertadores e teria uma chance que o aargentino Independiente não tivera, de desbancar o time alemão. No ano anterior, o Bayern de Backenbauer, Sepp Maier, Rummennigge e Gerd Muller não quis disputar o torneio. Após vencer por 2 a 0 em Munique, o Bayern foi ao Mineirão, palco de Brasil e Alemanha neste 2014. E segurou um 0 a 0 para comemorar o título Mundial.

Levou tempo até que uma equipe mineira ganhasse nova chance de consagração mundial. Mas ela veio, em 1997, após uma campanha irrepreensível do mesmo Cruzeiro na Libertadores. Quis o destino, no entanto, que novamente o obstáculo final de um time de Minas para o título do Mundo fosse um alemão. Desta feita, o Borussia Dortmund. O time amarelo não tinha nenhum grande destaque. O principal nome era o suiço Chapuisat, além do volante brasileiro Julio César. O Cruzeiro venceu a Libertadores e chegaria até com um certo favoritismo, não fosse um erro histórico. No hiato entre uma decisão e outra, a diretoria celeste achou por bem reforçar a equipe apenas para a decisão do Mundial, agora disputada em jogo único no Japão. Chegaram o lateral-direito Alberto (que não jogou) e o zagueiro Gonçalves e o atacante Bebeto, que atuaram. O grupo titular, claro, não gostou. O time não rendeu e a derrota por 0 a 2 sepultou as chances mundiais da Raposa mais uma vez.

Em 2013 o Atlético Mineiro surpreendeu a todos e, no sufoco, ergueu seu troféu da Libertadores. Uma campanha memorável, marcada pelos jogos no Horto – o estádio Independência – e pelas defesas milagrosas de Victor, hoje goleiro reserva da Seleção. O time de Ronaldinho e Jô passou a pensar no Mundial de Clubes, já em novo formato, referendado pela Fifa e com mais jogos que na época do Cruzeiro.

E quis o destino mais uma vez que outro alemão estivesse no caminho mineiro. O Bayern de Munique, de Schweinsteiger, Toni Kroos, Thomas Muller e muitos outros que estarão em campo nesta terça, ergueu a Champions League e também iria ao Mundial. Novamente Minas Gerais iria jogar seu sonho Mundial contra a Alemanha – e contra um time que é a base da atual seleção alemã. Curiosamente, o Galo é o time brasileiro que mais empresta jogadores ao atual Brasil. Apenas dois dos 23, mas o que equivale a metade dos jogadores que atuam no futebol nacional.

O encontro contra o Bayern, porém, não aconteceu. O Atlético-MG acabou surpreendido pelo marroquinho Raja Casablanca nas semifinais do Mundial. Uma surpresa que impediu a revanche mineira, pelo menos até esta terça, quando a camisa amarelinha estará desfilando no Mineirão justamente contra os algozes dos sonhos mineiros.

Será que chegou a hora de Minas Gerais? 

 

Odisseia do Galo rumo ao topo da América vira livro

“Queria encontrá-la ainda acordada. Não consegui.
 
Ela já dormia quando entrei em casa. 
 
Sentei ao lado dela na cama e a abracei. Então, finalmente, consegui desabar. Cair no choro. Eu era responsável pela minha paixão, mas também pela dela. Pelas alegrias e pelos sofrimentos.
 
E chorei por minutos. Por horas. Chorei nos dois VTs do jogo que vi naquela madrugada. Chorei quando ouvi a épica narração do Pequetito na rádio Globo.
 
Chorei em todas as repetições do pênalti desde aquele dia.”
O trecho acima é do livro “Nós acreditamos”, escrito a três mãos pelos jornalistas Leonardo Bertozzi (ESPN Brasil), Mário Marra (CBN-SP) e Mauro Betting (Rádio Bandeirantes-SP) e relata as emoções vividas por eles e pela torcida do Galo na caminhada pelo título inédito da Copa Libertadores 2013. 
 
Um relato emocionante e emocionado de memórias de lances como o descrito acima, de quando Victor defendeu o pênalti cobrado por Riascos, do Tijuana, já nos acréscimos do jogo de volta em Belo Horizonte. O Galo empatava em 1-1 e ia se classificando na soma dos dois jogos no critério do gol fora de casa –  no México, o jogo deu 2-2.  Victor se tornou o grande herói da conquista. “Ela”, citada por Bertozzi no texto, é Laura, a filhinha que sofria e vibrava com cada lance do Atlético-MG na conquista histórica. Agora, virou literatura pelas mãos do pai e dos amigos.
 
 
 
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Libertadores para todos: quem está na fila?

Galo campeão da Libertadores: quem quiser que pegue a senha

A piadinha recorrente entre os rivais era de que o Governo acertou em cheio ao lançar o programa “Libertadores para todos”, uma gozação com a longa espera de Corinthians e Atlético Mineiro em conquistar o título que os rivais já tinham. Campeão, o Galo já pensa no Mundial e desafia os interessados a tentarem no ano que vem. Dos 16 maiores clubes do Brasil, 10 já têm a cobiçada glória. Quem, portanto, estraria no “LPT” fictício? 

O Fluminense abre a lista de espera. Vice-campeão em 2008, quando perdeu para a LDU do Equador, o Flu é o atual campeão brasileiro e tem feito boas campanhas nos últimos anos. Namora com a taça – tem seis participações e foi sétimo neste ano – mas começou mal o Brasileirão 2013 e terá de suar para chegar à Libertadores por essa via. Por outro lado, está na Copa do Brasil – outrora o caminho mais curto.

Outro vice-campeão continental que está na fila é o Atlético Paranaense. Depois de perder a final de 2005 para o São Paulo, não repetiu as boas atuações e até amargou uma Série B em 2011. Teve três participações no torneio continental – a última, no mesmo 2005 – e neste ano está mal no Brasileirão. O Furacão, a exemplo do Flu, também tem a Copa do Brasil como atalho para a glória.

Terceiro colocado no distante ano de 1963, o Botafogo é mais um dos grandes na lista de espera. Disputou a Libertadores em três ocasiões, sendo a última em 1996. Está na briga pelo Brasileirão 2013 e também está na Copa do Brasil.

Quinto colocado em 1989, o Bahia é outro que aguarda sua senha no painel. Participou três vezes da competição, sendo a última exatamente no ano de sua melhor campanha. No Brasileirão, está no meio da tabela, mas terá um atalho diferente para voltar à Libertadores: a Copa Sulamericana. Quem sabe um título continental seguido do outro?

O Coritiba é outro campeão brasileiro à espera da taça continental. Sétimo colocado em 1986, quando disputou a competição como campeão brasileiro, participou também em 2004 e não mais voltou. Briga na parte de cima da tabela no Brasileirão 2013 e pode tentar a volta também via Copa Sulamericana.

A lista dos grandes ainda sem Taça Libertadores se fecha com o Sport. Foi 11o colocado em 2009, quando disputou pela segunda e última vez a competição. Está na Série B nesta temporada, mas, curiosamente, pode disputar a Libertadores 2014: para tanto, precisa ganhar a Copa Sulamericana, competição na qual está por conta dos novos critérios da CBF.

  • Jejum e repeteco

Se quem ainda não ganhou a competição está sedento, a vontade dos que já faturaram em repetir não é menor. Dos 10 clubes brasileiros campeões da Libertadores, o maior jejum é o do Flamengo, campeão pela única vez em 1981. O Grêmio, bicampeão em 1995, já podia ter saído da fila, mas perdeu a decisão de 2007 para o Boca Jrs. Curiosamente, na sequência do jejum, está outro bicampeão que perdeu final recentemente: o Cruzeiro, que levou em 1997 mas perdeu para o Estudiantes em 2009.

Campeão em 1998, o Vasco aumenta a fila dos jejuantes, seguido do Palmeiras, que poderia ter levado o bi entre 1999 e 2000, mas perdeu a segunda final. Um pouco menos impacientes estão os torcedores do São Paulo, tricampeão em 2005. Assim como os do Internacional, que levou o bicampeonato na primeira das quatro finais seguidas com brasileiros em 2010. Depois de um longo jejum – desde a Era Pelé – o Santos também não tem muito do que reclamar, campeão em 2011. O Corinthians, por sua vez, ainda está em lua de mel com a torcida pelo belo ano de 2012. E o do Atlético-MG… esse então, acha tudo isso aqui uma grande festa!

  • Menções honrosas

Dois clubes brasileiros não se encaixam no perfil acima, mas merecem menção pelas ótimas participações em Libertadores. Vice-campeão em 2002, o São Caetano não conseguiu se fixar entre os clubes mais fortes do Brasil, mas fez belas campanhas no início dos anos 2000, incluindo dois vices no Brasileirão e três participações na competição continental. Hoje patina na Série B.

Outro que tem história para contar na Libertadores é o Guarani. O Bugre foi terceiro colocado em 1979 e também jogou por três vezes a Libertadores, sendo a última em 1988. Atualmente disputa a Série C do Brasileirão.

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Horto ou Mineirão? Política, dinheiro e resultados explicam

A CBF entrou na briga para que o Atlético Mineiro use o Independência na decisão da Libertadores (veja aqui). A defesa política ao filiado é justa e lícita, embora contrarie um regulamento que, de fato, interessa só às vezes, como a história mostra. Com 53 jogos e 43 vitórias no Horto, o Galo tem mais motivos do que apenas o rendimento em campo para usar o estádio de apenas 23 mil pessoas em detrimento do Mineirão, que por muitos anos recebeu os jogos do time.

A casa do América-MG passou a ser o caldeirão do Galo e virou símbolo nessa Libertadores. Ao entrar na briga, a CBF fortalece o aspecto político para decisão contra uma equipe paraguaia, local da sede da Conmebol. O principal argumento do Atlético-MG para utilizar o Horto é a justiça: o Defensores del Chaco, principal e maior estádio paraguaio, tem capacidade apenas para 38 mil lugares. Se o regulamento prevê o mínimo de 40 mil lugares, por que a Confederação Sul-Americana ignorou a regra? O próprio site da Associação Paraguaia de Futebol atesta isso:

AFP documenta: Defensores recebe no máximo 38 mil pessoas

O Defensores del Chaco já recebeu até 50 mil pessoas, mas uma reforma orientada pela Fifa, visando segurança, reduziu e modernizou o estádio. O Olímpia já decidiu outras cinco edições da Libertadores no Estádio. A última, para 40 mil pessoas, contra o São Caetano. Há quem argumente que a redução seja por conta da segurança dos torcedores e que o estádio, de fato, cabe mais de 38 mil torcedores. Um contra-senso, sem dúvida, pois mudar os laudos para atender um regulamento que preza por segurança e conforto, contrariando o mesmo item que reduziu a capacidade, é apenas por necessidade política. Que se mude o regulamento, então.

O próprio futebol brasileiro já se beneficiou de algo parecido. Com capacidade reduzida para 37.952 pessoas pelos órgãos de segurança de São Paulo, o Pacaembu foi “inflado” novamente em 2009, quando novos laudos foram emitidos para elevar a capacidade para 40.199 lugares, o que atendeu as necessidades de Santos em 2011, para a final contra o Peñarol, e Corinthians em 2012, contra o Boca Jrs. Algo que não poderá acontecer com o Independência, pois a capacidade de 23 mil lugares é muito inferior a exigida. No entanto, regra é regra, certo?

Não. Em 2006, Colo-Colo e Pachuca decidiram a Copa Sul-Americana com um dos estádios comportando menos de 40 mil lugares. O Estádio Hidalgo, casa do Pachuca, tem 30 mil lugares e recebeu o primeiro jogo da decisão. O Pachuca seria campeão no Chile, depois de um 1-1 em casa, ao bater o Colo-Colo por 2-1 no Estádio Nacional (47 mil lugares). O Colo-Colo não se opôs à decisão na casa do rival. Diferente do que aconteceu na decisão da Libertadores 2005, quando o Atlético Paranaense foi impedido de jogar na Arena, então com capacidade para 26 mil torcedores. Nos bastidores e com o regulamento na mão, o São Paulo vetou o jogo na Arena, mesmo com a instalação de arquibancadas móveis que capacitaram o estádio para os 40 mil lugares. A Arena recebeu um único jogo nesse formato: o clássico Atletiba, maior rivalidade do Paraná, assegurado em segurança pelo Crea e Corpo de Bombeiros. O São Paulo não aceitou e o jogo foi disputado no Beira-Rio, em Porto Alegre – empate em 1-1. Na volta, o Tricolor Paulista fez 4-0 e ficou com a taça. Outro episódio aconteceu em 1999, quando o Palmeiras decidiu a Libertadores no Parque Antártica. As informações sobre o público daquele jogo são imprecisas em várias fontes, mas apontam, em média, 32 mil pessoas presentes.

Diferente do xará paranaense, o Galo tem uma opção em Belo Horizonte. O Furacão não pôde contar com o Couto Pereira, vetado pelo próprio Coritiba, que divugou laudos que atestavam uma capacidade de 37 mil lugares em sua casa – curiosamente, em 2006 pela Série B, o Coxa recebeu 43.646 torcedores na derrota para o Marília por 2-3, que poderia resultar no acesso do Alviverde à Série A. O Galo, por sua vez, tem o Mineirão, outrora sua principal casa. Por que não jogar lá?

  • Mineirão ou Minas Arena?

Desde o acordo para a reforma do Mineirão o Atlético-MG bateu o pé para o que lhe foi ofertado. Encontrou refúgio no Independência e criou uma simbiose. Porém, foi no Mineirão que o Galo viveu seus principais momentos na história: diversos títulos estaduais, incluindo o último, semifinais e finais de Brasileirão, Copa Conmebol e outros grandes jogos. Qual a insistência com o Horto?

Além do ótimo retrospecto estatístico, não jogar no Mineirão é questão política. A negativa persistente do Galo sobre a oferta para voltar a velha casa tem como fundo os rendimentos. Parece um contra-senso preferir jogar para 23 mil pagantes no Horto, quando o Mineirão pode receber 63.936 pessoas. O problema está no contrato. Segundo o que foi divulgado no acordo com o Cruzeiro – que pode servir como base da análise – o clube mandante tem que ceder aproximadamente 10 mil ingressos para a gestora do estádio. Tem também que pagar 70% de todas as despesas. Alguns funcionários receberiam, por exemplo, cerca de 4 mil reais por jogo, o que gerou reclamações públicas do Cruzeiro. O presidente Alexandre Kalil já fez diversas reuniões com a administradora do estádio, mas chegou a qualificar como “draconiana” a proposta para o Galo.

Se a CBF conseguirá a mudança através de política, saberemos essa semana. Até o presente momento, o jogo segue marcado para o Mineirão. Mas, independente do que aconteça, é hora da Conmebol rever uma regra que vale só às vezes e, de fato, não acrescenta nada ao futebol. 

Por decisão inédita, Atlético-MG desafia coincidências

Galo 4o colocado em 1978: campanha de 2013 já é melhor

O Atlético Mineiro precisa de uma vitória por 3 gols de diferença – ou ao menos um 2-0 para levar aos pênaltis – para chegar pela primeira vez à decisão da Copa Libertadores.

Para tanto, terá que superar o bom time do Newell’s Old Boys e algumas coincidências históricas. 

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Semifinalista pela última vez em 1978, o Galo também teve de enfrentar equipes argentinas. O regulamento era diferente. O então vice-campeão brasileiro (assim como agora) perdeu três dos quatro jogos que fez em um triangular semifinal contra River Plate e Boca Jrs., que acabou campeão. 

Contando outros torneios internacionais, outras coincidências. Na Copa Conmebol (atual Sulamericana) de 1998, quando foi semifinalista, acabou eliminado pelo Rosário Central – grande rival do Newell’s. Naquela oportunidade, no entanto, havia conquistado um grande resultado na Argentina, empatando em 1-1. Foi derrotado em casa por 0-1. Se conseguir reverter o placar contra o Newell’s, o Galo terá pela frente um adversário contra o qual já decidiu título: o Olímpia, rival na final da Copa Conmebol de 1992, da qual saiu vencedor.

Maestro do Atlético-MG, Ronaldinho também precisa superar alguns tabus. Nas semifinais internacionais que disputou, nunca reverteu o placar do jogo inicial. Campeão em 2004/05 pelo Barcelona, passou pelo Milan nas semis após vencer o primeiro jogo, 1-0. Em 2007/08 caiu na mesma fase ao perder para o Manchester United, que arrancou um 0-0 em Barcelona. Na última vez em que a Libertadores não teve um brasileiro sequer na decisão, em 2004, o técnico eliminado nas semifinais era Cuca. O atual comandante do Atlético-MG estava à frente do São Paulo, que acabou eliminado pelo surpreendente Once Caldas, da Colômbia. Victor, herói da classificação contra o Tolima, também terá que superar um tabu: nunca passou das semifinais da Libertadores. Em 2009, quando ajudou o Grêmio a ter a melhor campanha de toda a competição – a exemplo do Galo – acabou caindo frente ao Cruzeiro.

invicto há 52 jogos desde a reabertura do Independência, o Atlético Mineiro tem ao seu lado os números do novo alçapão e um pequeno tabu do lado do Newells. Os argentinos nunca eliminaram um brasileiro na competição. Nos dois encontros com o São Paulo, eliminação nas oitavas em 1993 e perda do título em 1992.

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O futebol mineiro em fotos

Colaborou Vinícius Dias

Belo Horizonte sedia a Mostra de Fotojornalismo Esportivo a partir da próxima quinta-feira, 16 de maio. O evento, intitulado “Futebol em Imagens”, exibirá cerca de 60 fotos, algumas inéditas, capturadas por lentes de 30 profissionais do estado. “A exposição mostra o poder de comunicação da fotografia”, sintetiza Eugênio Sávio, curador do projeto com apoio da Oi Futuro. “Esse conjunto de emoções que envolvem o esporte rende muita imagem. E foi a partir disso que a gente trabalhou”, acrescenta.

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Selecionadas sob o ponto de vista estético, as fotografias trazem à tona valores como as vibrações e expressões no esporte. “Com os recursos, a gente consegue fotografar coisas que são quase invisíveis”, destaca. As imagens evidenciam, ainda, o reencontro entre o futebol e o torcedor da capital. “Essa volta do Independência, do Mineirão foi muito importante, muito celebrada pela mídia, pelas pessoas e registrada pelos fotógrafos”, analisa o professor.

Sua ideia é aproveitar o fato de a capital das Alterosas ser uma das seis cidades-sede da Copa das Confederações, em junho. “O futebol está na cabeça de todo mundo, por conta destes eventos que a gente (de Belo Horizonte) vai receber”, comenta Eugênio. “Então, queria pensar como a fotografia poderia contribuir para preencher os espaços turísticos. Surgiu essa ideia”, conta.

  • Futebol em Imagens

De 16 de maio a 30 de junho – de terça a domingo
Av. Afonso Pena, 4001; Mangabeiras – 11h às 18h

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Torcida do Galo levanta bandeira pró-diversidade

A capa da página no Facebook e seu slogan

Poucos ambientes são mais machistas que o futebol. A contradição é que poucos movimentos populares são tão democráticos quanto o esporte número 1 do Brasil, onde o gol une diferenças na hora da comemoração. Nesse meio, um grupo de mineiros, torcedores do Galo, resolveu se aventurar a assumir a bandeira pró-diversidade – e com o escudo do clube: a Galo Queer, sonoramente um trocadilho com Galoucura, a maior organizada do Atlético-MG. Queer é uma gíria britânica que significa literalmente “estranho” ou “esquisito”, mas passou a ser usada pela comunidade LGBT pela similaridade com queen, que significa “rainha”.

Conversei com MF (nome preservado), um dos organizadores da página na internet, que em três dias reuniu mais de 3.000 pessoas “curtindo” (até o fechamento do texto, eram quase 5 mil) e fez com que torcedores de outros clubes também entrassem no jogo (veja a lista abaixo). O que era pra consumo interno, virou movimento nacional. “Fiz a página apenas para divulgar entre meus amigos, pensando que algum dia poderíamos nos organizar pra fazer algo maior. Acho que atendemos a uma demanda silenciosa. Pelo visto, muita gente que gosta de futebol já queria dar esse grito contra o machismo, a homofobia e a intolerância e ficamos muito emocionados com todas as manifestações de apoio”, disse.

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Evidentemente, nem tudo são flores. Houve quem achasse que se tratava de uma brincadeira de cruzeirenses, provocando os rivais. Houve também ameaças da própria torcida do Galo. “Sou atleticana desde que me entendo por gente e fiquei muito incomodada com a homofobia e o machismo generalizados. Estamos mexendo em um terreno muito machista e conservador. O problema são as ameaças que recebemos. As pessoas se oporem ao movimento é totalmente aceitável, mas ameaça não.”

Escudo alterado do Galo foi uma das polêmicas inicias do movimento

Por ora, tudo está no terreno da internet, mas os torcedores aguardam o apoio da diretoria atleticana mineira. “Ainda não recebemos uma resposta do time. Ficamos sabendo, no entanto, através da reportagem do Globo Esporte, que a Diretoria é favorável ao movimento e ficamos muito felizes.” MF faz questão de ressaltar que a “briga” é muito maior. O futebol é parte importante da cultura do País e, por isso, não pode ser excluído do tema. “Enquanto essas arenas de exceção continuarem existindo, arenas onde o preconceito é permitido, o preconceito e a intolerância nunca acabarão. Discutir machismo e homofobia no futebol é uma questão urgente.”

É comum o futebol ver provocações entre torcedores usando-se do estereótipo homossexual. Em Minas Gerais há o uso pejorativo da palavra “Maria” para ofender os torcedores do Cruzeiro; em São Paulo, os sampaulinos são chamados pelos rivais de “Bambis”. MF repudia a provocação pelo gênero: “Se você não é homofóbico nem machista, você simplesmente não usa tais termos para ofender alguém. A rivalidade pode se expressar de várias outras formas que não alimentem uma cultura opressiva.”

Levar a discussão e se fazer representar nos estádios é o próximo passo da Galo Queer. Mas o grupo ainda teme retaliação. “Frequentamos o estádio e temos sim esse objetivo. Mas queremos fazer tudo com calma. É preciso garantir a integridade física de todos os participantes. Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil fazer protestos no estádio.”

  • QUEM MAIS “SAIU DO ARMÁRIO”
     

​Cruzeiro Maria – Cruzeiro

Bambi Tricolor – São Paulo

Corinthians Livre – Corinthians

Palmeiras Livre – Palmeiras

QUEERlorado – Internacional

GaymioGrêmio Queer – Grêmio

Furacão: sem homofobia – Atlético

Flamengo Livre – Flamengo

Bahia Livre – Bahia

Vitória Inteligente – Vitória

Timbu Queer – Náutico

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