O anúncio pegou a todos de surpresa: o Atlético irá disputar, entre 1 e 12 de fevereiro, um torneio na Espanha, participando da intertemporada européia, confirmando a estratégia de deixar o time Sub-23, que está em preparação desde o ano passado, no primeiro turno do Paranaense. Assim, quebra um paradigma no futebol brasileiro e estica a própria pré-temporada, adaptando-se a um calendário inchado e muito criticado no Brasil.
No papel, a ideia é ótima. Na prática, só o tempo dirá. Evidentemente, como as últimas temporadas já mostraram, não basta apenas estrutura e boa estratégia para que um time seja vencedor. Estrutura o Atlético tem de sobra; o que tem faltado mesmo, há algum tempo, é material humano. Mas o clube não deu prioridade ao investimento pesado em jogadores nesta temporada – tampouco admitiu estar pressionado pelas contratações dos rivais, em especial o Coritiba, como me disse o diretor de futebol Antônio Lopes nessa entrevista (clique para assistir).
Já que não abriu os cofres – e nem tem poder para competir no mercado com Corinthians, Santos e outros – optou por um intercâmbio europeu, tirando os jogadores do elenco principal do excesso de jogos, dando experiência ao grupo numa disputa com estilos diferentes de jogo, proporcionando integração no elenco e uma experiência de vida individual que pode sim ser revertida em desempenho. Funcionário feliz é funcionário produtivo, em qualquer segmento. E conhecer a Espanha nunca foi mau negócio.
O que pode dar errado é justamente o choque cultural. Primeiro, fora de campo. O elenco Sub-23 tem jogadores conhecidos que já tiveram suas chances e outros que ainda são apostas. O volante Foguinho e o lateral Herácles, por exemplo, são os mais experientes, ao lado de Zezinho, que apareceu bem no Juventude, mas desde uma passagem pelo Santos não decolou na carreira. O goleiro Santos e o trio de atacantes Taiberson, Edigar Junio (sem “r” mesmo) e Pablo são apostas.
Diante de um Coritiba soberano no Estado e com o melhor elenco entre todos os paranaenses, um Paraná sedento por uma resposta ao torcedor, com aposta num elenco mais experiente, e os sempre competitivos Londrina, Operário, Arapongas e Cianorte, os meninos do Atlético podem sofrer uma pressão por resultados que atrapalhe ou antecipe a entrada do time principal na disputa. A aprovação à ideia dura até o primeiro 0-3 contra, como de praxe no futebol.
Em segundo lugar, pode haver uma distância muito grande entre a preparação internacional do Atlético para a de outros clubes brasileiros. Esse é o menor risco, de fato. Mas a dinâmica de jogo que o clube precisa ter na Copa do Brasil e no Brasileirão pode ser maior do que a oferecida pelos adversários na excursão. Os times do Leste Europeu estão na segunda linha do futebol daquele continente. Adversários interessantes que podem estar no caminho atleticano são o Dínamo de Kiev, da Ucrânia (que disputou a Champions League na fase de grupos e pegará o Bordeaux, da França, na fase de 1/16 avos da Liga Europa) e o Rubin Kazan, da Russia (que também está na Liga Europa e será o adversário do atual campeão, Atlético de Madrid). Ambos fizeram a decisão do mesmo torneio na última temporada – na foto do post, lance da partida, vencida pelo Rubin por 2-1.
No geral, a ida para a Europa em meio ao Estadual (que, diga-se, não está sendo “abandonado” pelo clube, que estará na disputa) pode significar um marco no futebol brasileiro. O desempenho do Atlético nas competições nacionais poderá ser parâmetro para outros clubes, caso a ideia seja bem-sucedida. Nem tanto pela viagem à Europa, mas muito mais por uma pré-temporada de 40 dias na prática, criada por iniciativa própria. No papel, parece bom. Na prática, só esperando os resultados.
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